Índios modernos

Já não se fazem índios como antigamente.

Dia desses fui em Mato Grosso a trabalho.

Chegando em meu destino, já tardinha, uma pequena cidade, procurei me hospedar no único hotel existente. Queria tomar um bom banho, descansar, jantar. (Para ganhar tempo, nem parei para almoçar, andando assim 600 quilômetros quase que sem pausas) No dia seguinte teria uma bateria de atividades.

Me instalei, tomei meu merecido banho. Mas ainda era cedo pra jantar, o dia ainda demorava a escurecer. Então vesti roupas leves e saí andando, me sentei em um bar de boa apresentação, parecia-me um lugar badalado.

Tão logo cheguei, após escolher um lugar estratégico, me sentei, com visão para o movimento da cidade, que àquela hora ainda era grande. Pedi um suco de abacaxi com hortelã. Não tinha. Fui informado que só tinha suco de laranja. Ok, suco de laranja! Duplo, bem gelado, sem açúcar.

Alguns instantes se passaram e se aproximou do recinto, um moço em uma caminhonete Ford F250, cabine dupla, do ano. Observei o condutor, vi que se tratava de um índio. Moço novo, parrudo, bem apessoado, com um pedaço de madeira atravessando sua orelha. Sim, era um índio. E dirigindo uma caminhonete toda incrementada. E vi que portava dois aparelhos celulares de última geração.

Ele sentou-se a meia distancia de mim e sacou um de seus aparelhos e começou a falar. Não sou de xeretar conversa alheia, mas pude ouvir:

- Sim, procurei adiantar as coisas e mandei email, quando ainda estava na fazenda. Eles ficaram de trazer as ferramentas no avião amanhã cedo.

- Sim, eu aguardo. Assim que receber as compras aqui, vou na agencia bancária e faço a transferência.

Falou essas coisas e então eu procurei me ocupar com meus pensamentos, desviando a atenção do assunto. Ele tinha aspecto de líder. (Seria o cacique?)

Como mudaram as coisas!

Até pouco tempo atrás, índio mandava sinais de fumaça, fazia dança pra chamar chuva, fumavam o cachimbo da paz, andavam descalços, pintava o corpo para as festas ou para a guerra.

Não sou contra a modernidade, em absoluto. Foi apenas uma constatação onde me deparei com a união do histórico com o moderno. Ali, as duas situações tinham convivência pacífica.

Mas eu sei que ausente da caminhonete, da internet e do celular, ainda existem índios que sobrevivem à moda antiga, se alimentando de pesca e caça, além de agricultura de subsistência.

Nos três dias que permaneci naquela cidade, pude ver muitos índios. Homens, mulheres e crianças. De carrão, de bicicleta, à pé, calçados, descalços. São moradores daquela região. E pude ver também, que os de posse não poucos. A grande maioria são pessoas com aparência simples e carente.

É o Brasil de hoje e de amanhã, convivendo pacificamente (ou não) com o Brasil de ontem.

Faria Costa
Enviado por Faria Costa em 08/09/2010
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