O homem só
O Homem só
(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.
O homem
anda,
procura, procura,
indaga...
E ninguém sabe dizer onde encontrar a mulher dos seus sonhos. Todos negam com a cabeça. Uns nem respondem. Outros lhe viram o rosto em sinal de pouco caso. Alguns se posicionam indiferentes e alheios à sua presença. Na verdade, a multidão o trata como se o pobre não existisse. A maioria daquela escumalha o considera um estróina, a julgar por seus modos estranhos, pelo seu vestir e até pelo falar.
E o coitado, infeliz, parece, mesmo, apalermado, furioso, louco. E, como um doidivanas,
Portanto,
segue adiante...
persegue
imagens distantes, figuras indistintas que nada têm a ver com a amada.
Perdido e só, esse caminhante não vive. Vegeta um tempo obumbrado, esquecido no espaço, irrecuperável do compasso inconseqüente dos dias que passam um após outro, como se para o mundo todas as coisas tivessem morrido ha séculos. É o destino imprecativo manipulando seus desejos e ansiedades como melhor lhe agrada. A esperança, aquela esperança ambígua, de outrora, se retirou, às pressas, de seu peito, tal como quem foge de algo ruim e prestes a acontecer. Tudo isso, porém, comporta uma causa: sua outra metade que ele busca incansavelmente. O efeito sente agora, abraçado à ausência da saudade que domina toda a mente, transformando o pensamento num redemoinho de idéias confusas. Afinal, onde está, por Deus, onde está a figura que coloriu seus devaneios? Sem ela e seus aconchegos é um homem vazio de vida, de cores e de esperanças. A partida da jovem lhe doeu muito. Feriu, de tal forma, que o coração insiste em bater descompassado, numa atitude convulsiva de sofrimentos embaraçosos. Em seu peito, uma ferida imensa, abriu feio, formou um buraco à flor da pele e, desde então não cicatriza.
Enquanto anda e procura, indaga e persegue, recorda o passado...
Lembra a vida a dois; os verdes anos de prosperidade e fortuna, como dádivas caídas do firmamento. Que belos e maravilhosos momentos de ternura e enlevo desfrutaram!...
No entanto, o copo do destino transbordou o licor amargo. O céu se tingiu de nuvens negras e um vendaval inesperado se fez forte, muito poderoso e intransponível. Suas idéias e ideais, a partir daí, entraram em parafuso, como um avião voando desgovernado. Tudo o que era bom se voltou de repente, para o nada. Toda aquela plebe, ao seu redor, deve estar com razão. Ele é mesmo, sem sombra de dúvidas, um alienado mental. Sente que as pernas bambeiam a carcaça. Em derredor de si, coisas, pessoas, casas... Giram e, à medida que entram nesse movimento rotatório, as vistas se turvam por completo, se quedam, em seguida, em pesadas brumas de solidão.
Está, pois, tolhido,
indefeso,
vencido... Vencido e
sem forças para soerguer o nariz, levantar a moral, dar a volta por cima e berrar. Na verdade, quer gritar que está vivo e carente. Dependente do amor dessa deusa que enfeitiçou sua alma e, no final das contas, o abandonou ao grotesco mais iracundo do ridículo.
- Te amo te amo! – grita o pobre infeliz olhando para um pequeno retrato três por quatro. - Te amo. Por que tu te escondestes de mim?
Será esse homem um louco?
Como, louco?
Louco?
O mísero só quer saber - na verdade, o infeliz só quer saber - onde está, onde se meteu, onde foi parar, a autora dos seus sonhos encantados!...
(*) Aparecido Raimundo de Souza, 57 anos é jornalista.