Declaração de voto
DECLARAÇÃO DE VOTO
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 08.09.2010)
As pessoas se encontram e se perguntam, angustiadas pela indecisão, pela incerteza sobre a melhor escolha a fazer, pela escassez do tempo que escoa rápido em direção ao dia das eleições:
- Em quem você vai votar? Para quem vais dar o teu voto no mês que vem?
- Dar, não! Vou vender! No mínimo, alugar.
Outros enfrentam a questão ao invés de esconder suas preferências atrás de uma brincadeira. E tentam ponderar:
- Depende do que a gente pensa, acha e quer. Depende da visão de mundo e de país de cada um de nós. Não existe o voto único, exclusivo, não existe o candidato universal, unânime. Se existisse, não tinha graça. E seria de desconfiar uma tal certeza generalizada. Talvez se deva analisar um pouco o que vem acontecendo: estando-se satisfeito, vota-se no candidato oficial; descontente, na oposição. Não sendo uma coisa nem outra, discordando-se dos caminhos trilhados e das alternativas propostas, fica-se com a terceira opção.
Então as pessoas argumentam, na tentativa de situar-se melhor frente à sua percepção da realidade:
- Bom, não se pode negar que muita gente melhorou de vida, muito pobre passou a ter melhores condições de vida, um dinheirinho a mais para casa, comida, carro, televisão. Mas os grandes empresários, as multinacionais e os bancos nunca se fartaram tanto de ganhar dinheiro alto, o tamanho dos juros só perdendo para a ganância dos impostos. Para nós, classe média, é que a coisa só piorou, perdemos tudo o que conseguimos alcançar em tempos melhores; aliás, nem somos mais classe média, a classe média desapareceu do Brasil: deixamos parte do nosso suor com os juros e os preços abusivos, o restante com os impostos e as taxas diretos e indiretos cada vez mais escandalosos.
- Avaliar informações, prestar atenção na imprensa cuidando das fontes e dos interesses que podem estar por trás de cada comentário, pensar no bem do país como um todo...
- Aí é que está o problema: para complicar, o horário eleitoral gratuito só confunde as coisas, com promessas descabidas que jamais serão cumpridas partindo de todos os lados. E situação e oposição dizem exatamente a mesma coisa: que a grande imprensa, vendida e comprometida, está controlada pelo lado contrário, manipulando informações e noticiando só o que interessa ao seu grupo. Alguém poderia me dizer, afinal, em quem eu devo votar, para quem eu posso dar o meu voto?
(Amilcar Neves é escritor com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 32 coletâneas e premiação em 44 concursos literários no Brasil e no exterior)