SOB AS FLORES DOS IPÊS AMARELOS, A MORRER PELO BRASIL...
Hoje, embora festa do sete de Setembro, a cidade de São Paulo amanheceu mais fria e mais cinzenta.
No sossego do feriadão prolongado da Independência, podíamos apreciá-la na sua intimidade grandiosa, cada um dos seus cantos, de suas esquinas, cada indício duma primavera vindoura a desabrochar nos seus jardins ora suspensos , quase sempre improvisados...
E um colorido especial marcava sua nítida presença nas calçadas a atapetar nosso chão que se preparava para recepcionar a comemoração do nosso bem maior: a liberdade conquistada e o exercício da cidadania.
Assim, os Ipês Amarelos, tão viçosos pelo milagre da estação que se aproxima, pareciam resplandecer seus cachos de flores, num êxtase que insistia em comemorar a liberdade mesmo sem o brilho do sol que se ofuscava sob as nuvens, em meio a névoa que descia.
Foi olhando a insistência do tão belo e efêmero espetáculo de floração dos Ipês Amarelos, que me dei conta do quanto insistiam em nos comunicar que também comemoravam o dia maior da nossa pátria.
Pareciam em "parada comemorativa" pelas avenidas da cidade.
Afinal, são eles árvores oficiais, um dos símbolos do nosso país.
E ao me reportar em pensamento para a nossa independência geopolítica e para nossa tão falada liberdade, cheguei à conclusão de que "independência" nem sempre se atrela à total liberdade duma nação.
Há situações diversas nais quais podemos nos considerar "independentes" e não necessariamente livres de fato.
O conceito de liberdade a mim me parece algo mais abrangente.
Num dia como este o patriotismo nos aflora no coração como os Ipês amarelos desabrocham na estação.
E a flor do patriotismo ou do nacionalismo , melhor dizendo, às vezes me parece tão efêmera por aqui quanto as flores de Ipês que repousam sucumbidas ao chão.
Ver o cenário atual dos nossos ânimos pré-eleitorais, nesses tempos em que a nossa nação se sedimenta como independente, livre e democrática, faz com que repensemos nossa atual liberdade e todos os conceitos que nela cabem. Inclusive o de Democracia.
Sinto que ainda estamos presos a muitos grilhões: À hipocrisia, à negligência e injustiça sociais, à manipulação política da ignorância, à miséria, à impunidade de toda sorte, à corrupção e degradação das instituições, ao constante conflito social muita vezes de instigação política, ao desrespeito à Constituição, à total falta de segurança civil e jurídica, enfim, ao tudo a que uma nação LIVRE E INDEPENDENTE faria jus...de natural estado de direito.
Ano de eleições e todos os candidatos às soluções urgentes falam bonito em nome da Pátria Livre!
Hoje todos eles apareceram para dar o seu recado de "palco" a "morrer pelo Brasil".
A mim, só me resta desejar à minha querida Pátria amada a liberdade de florescer cada vez mais livre.
Uma Pátria verdadeiramente livre, e não eternamente refém da inconsciência "de si mesma". Liberdade que somente a CONSCIÊNCIA poderá alcançar.
Que não sejamos nós, brasileiros cidadãos e animados eleitores, apenas qual as tenras flores do belo mas tão efêmero desabrochar dos Ipês Amarelos, que tão rapidamente voltam a atapetar um duro chão.