EDILEUSA

Esses dias, vinha caminhando pela calçada, quando, atrás de mim, uma forte voz feminina, tipo Claudia Raia, chamou:

– Edileusa!

Não era comigo, continuei andando. A voz chamou de novo:

– Edileusa!

Não havia mais ninguém à frente. Pensei em olhar para trás, mas tenho certeza de que não me chamo Edileusa. A mulher estava me estranhando.

Foi quando, muitos metros adiante, parou uma baixinha de cabelos longos, calça justa e botinhas, uniforme oficial feminino nesta época. Era a Edileusa. As duas, apressadas, me passaram à frente. Edileusa tinha a parte posterior, como direi? generosamente talhada. A outra não apresentava nenhum aspecto digno de interesse, caminhava com um cigarro na mão, coisa que acho deselegante, que me desculpem as eventuais leitoras fumantes.

Então me lembrei de outra Edileusa, de meus tempos pretéritos, quando iniciei a vida profissional e morava em um hotel em Jaraguá do Sul, local que me serviu de grande experiência, pois ali conheci pessoas de todos os tipos: políticos, vendedores, militares, futuros industriais e executivos em início de carreira. Era um hotel tipo caseiro, instalado num sobrado velho, com escadas de madeira, daqueles que serviam refeições completas (café, almoço e jantar).

Certa manhã, a mencionada Edileusa, uma das arrumadeiras do hotel – também baixinha, de cabelos compridos e com semelhante detalhe posterior – não apreciou muito uma brincadeira que fiz (se é que se pode considerar brincadeira jogar a moça na cama e se atirar em cima), mas ela não devia ter ofendido minha santa mãe. Foi a única vez na vida em que levantei a mão para uma mulher, salvo algum esquecimento. O pior foi quando a mão desceu com tudo, com o vigor de meus 20 anos, e a atirou de novo na cama (não, não estou incentivando a violência. Jovens, não tentem fazer isso em casa, hoje dá cadeia).

Aí a mulher abriu um berreiro de se ouvir em todo o hotel. Portas de quartos se abriram, curiosos vieram ao corredor. O que houve? Assalto? Incêndio?

Para não passar vergonha, só vi uma solução: coloquei as mãos nos bolsos e saí do quarto assobiando, como se não fosse nada comigo, enquanto a fulana continuava soluçando alto.

Semanas depois, Edileusa deixou o serviço, não certamente por causa disso. Voltou meses mais tarde, bem vestida, com o rosto pintado, parecia outra, ao lado de uma aliciadora de mulheres, procurando “material” na cidade.

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 07/09/2010
Código do texto: T2483407
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