CONVERSA PARA BOI COM INSÔNIA





A mulher atende o telefone no terceiro toque:

- Alô!

- Aqui é o Sato.

- Quem?

- Sato!

- Não conheço nenhum Sato!

- Como não me conhece?

- Não estou entendendo o senhor!

- Preciso repetir? Além de dissimulada, é surda?

- Como é?!

- Incrível! Até parece que não me conhece mesmo!

- O senhor está bêbado?

- Ah! A senhora, então, me conhece!

- Continuo sem entender nada!

- Ora! Se diz que estou embriagado é por ser vidente?

- Não, senhor Sato. Por ser ouvinte! Estamos ao telefone!

- A senhora se acha muito inteligente!

- Na verdade, não. Permaneço na linha!

- É muito dissimulada mesmo! Como se soubesse o que é andar na linha!

- Melhor não contrariar!

- Chega! Exijo uma explicação! O que tem a me dizer?

- Que tal, adeus?

- A senhora está passando dos limites!

- É que o senhor me pegou num ótimo dia!

- Voltamos à dissimulação?

- Senhor Sato, eu seria dissimulada se realmente tivesse a infelicidade de conhecê-lo, mas não é o caso! Então, preste atenção! Vou repetir bem devagar. O senhor está preparado?

- Fale logo!

- Eu não sei quem é o senhor!!!

- Claro! Só falta dizer que liguei para o número errado!

- Isso seria mais sensato, mas estou falando com Sato!

- O que prova que a senhora sempre soube com quem está falando!

- Sim! Com um chato!

- Minha paciência tem limites!

- Quem ultrapassou todos os limites foi o senhor!

- Nada supera sua falta de vergonha, dona Serena!

- SERENA?

- SE-RE-NA!!!

- Cinismo, não!!! - E a mulher bate o telefone em sua cara!







(*) IMAGEM: Google


http://www.dolcevita.prosaeverso.net
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 07/09/2010
Reeditado em 14/09/2010
Código do texto: T2483001
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.