SOLIDÃO INTELECTUAL...

Julga-se superior pelo seu intelecto. Como ele não há. Confia piamente nisto que ostenta o ar medíocre e esnobe dos que desprezam quem não sabe muito. Ignora quem não tem sabedoria. Seleciona a dedo as companhias para trocas de conhecimento.

Do outro lado do salão onde acontecia bonito evento, a pequena menina com seus belos cabelos cacheados mostrava-se atenta a tudo ao que via. De testa franzida não tirava os olhos do intelectual. Parecia querer entender o motivo de alguém estar solitário numa festa com tantas pessoas alegres e comunicativas.

Da minha mesa, por algum momento, eu a observei com igual curiosidade com que ela fitava o homem perto da janela central do salão. Tive vontade de me aproximar da menina e lhe dizer que o intelectual era um homem que estudou sobre muitas coisas, porém, pouco se preocupou aprender como lidar com o outro. Eu diria a menina dos cachos negros que se a inteligência que não for aliada a humildade leva-nos a soberba.

Ah, garotinha! Eu poderia lhe dizer que de nada serve a intelectualidade se não for para a partilha, para a integração. De que adianta possuir tamanha sabedoria e ficar assim numa festa como aquele senhor com cara de poucos amigos? Quem suporta ficar diante de alguém que acredita saber mais que qualquer um e fala com formalidade linguística para se gabar ou humilhar a quem o ouve? O verdadeiro intelectual é aquele que sabe usar a linguagem própria para cada indivíduo conforme seu grau de instrução e, não aquele que a qualquer custo tenta convencer o outro do quanto sabe de tudo.

Mas, voltei para a complexidade dos meus pensamentos e preferi deixar a cândida menina com suas imaginações. Na verdade ela poderia nem estar importando com a solidão intelectual do homem. Seu olhar curioso talvez fosse simplesmente pela sisudez da face ou pelos seus cabelos desgrenhados. Por eu ter conhecimento da personalidade dele imaginei que a menina como eu, estivesse incomodada pela ausência de companhia naquela mesa.

O fato é que aquela cena perturbou-me grandemente. O intelectual tinha sobre a mesa um prato cheio de vaidades e um copo frio vazio pela ausência de amigos. A solidão ali era o preço alto pelo orgulho enraizado.

Veio-me então a mente a frase de quem dotado de imensa sabedoria conservou a simplicidade dos que têm nobreza e sensatez. E desejei que o homem solitário da festa imitasse o gesto de Sócrates que mesmo sendo grande filósofo, foi humilde ao dizer "(...) só sei que nada sei”. Se agisse assim, certamente a mesa do intelectual seria disputadíssima a noite inteira!

Afinal, quem não gosta de uma boa companhia e ótimas conversas?rs