DOMINGOS
Saudades dos domingos de minha infância. O dia amanhecia cheio e quente da luz do sol. Eu e meus irmãos, acompanhados de papai, nos dirigíamos à cozinha onde nos esperava o café quentinho e os quitutes preparados por mamãe, aprendizado culinário trazidos da fazenda onde nascera. Depois, alegres saíamos para brincar no “campinho” no fim da rua onde morávamos.
Meus irmãos iam aprender com papai como soltar a pipa que na véspera tinha sido feita por eles. No sábado, estava sobre a mesa da sala de jantar, papel de seda colorido, linha, carretel, grude (cola preparada por mamãe) e tirinhas de bambu. Não existia a maldade do serol.
Então, estávamos lá ansiosos para colocarmos em prática o plano de papai, descemos à rua correndo para chegar ao campinho. Papai gritava: “cuidado pra não cair, crianças”. E... Corre daqui... Corre acolá... E a raia sobe... Sobe formando paisagem com o céu azul. Ah! Cansei! Essa brincadeira é de meninos! Vou inventar uma brincadeira para mim, afinal sou mestre no “faz de contas”. Pensava eu.
Minha cabeça estava vazia... Não consegui inventar. Sempre há uma saída. Olhei ao redor e o vermelho me chamava a atenção em meio ao verde da folhagem. Eram as amoras me convidando para um banquete. Então, fui caminhando em sua direção. Rouges... Fruits rouges... Lá estavam me chamando.
Atravessei a cerca de arame farpado que nos separava. Papai não aprovaria esta minha atitude, pois ele tinha medo que houvesse algum animal peçonhento no mato pronto para picar alguém que se atrevesse. Aproveitei a distração que envolvia papai e os meninos e fui adiante em minha aventura. Estendi a mão e... Nossa! Como são gostosas, me deliciei... De repente vi o mato se mexer num serpentear louco de uma cascavel que vinha em minha direção. Assustada voltei e o arame farpado estava lá. Com o susto o havia esquecido e nele deixei uma mecha de cabelo, o vestido rasgado e eu ganhara um arranhão... E mais outro e outro... O estrago estava feito! Não fui picada, mas fiquei marcada por aquela aventura... E agora???