ENSAIO PARA O AMOR

Tudo tem seu começo. O amor que o diga. Ah, o nascimento do amor, aquelas descobertas, o desejo de alcançar o infinito quando ao lado daquela pessoa... o começo é realmente mágico. Mas remeto-me a um pouquinho antes, quando o amor não passava de flerte.

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O flerte é o ensaio pro amor. Serve como um amistoso, pra treinar e estar preparado quando for pra valer. É o início do início, onde nada ainda são flores e nada ainda são trevas. É o momento que você conhece a pessoa, e digo conhecer em sentido estrito. Você confia, mas sempre com um pé atrás. Você gosta, mas passa um pente fino na agenda telefônica dele. Você acredita, e essa, sem sombra de dúvidas, é a parte mais cômica.

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Tomemos como exemplo uma noitada qualquer. Um cara puxa assunto contigo e, se ainda não tomou mais de duas caipirinhas, perguntará seu nome, o que faz da vida... aquele papo que você conhece melhor que eu. O cara quer saber sobre você, mas você, quando não responde com uma simples e bela ignorada, conversa monossilabicamente. Ele está ali, praticamente um gentleman, mas você não dá bola, só veio pra dançar, tem namorado, coisa e tal. É um belo exemplo do teatro do flerte; Um homem se fazendo de interessado pra uma mulher que banca a difícil.

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Isso ocorre também na faculdade, no trabalho, no ponto de ônibus, no velório... de maneira menos explícita, mas ocorre. O cara, com receio de uma iminente rejeição, de uma hora pra outra torna-se o Diretor de núcleo da Rede Globo, neto de xeique, vencedor do torneio de salto-triplo do seu clube. Já a mulher,com intuito de se livrar daquele mala, arruma um noivado com o campeão interestelar de caratê, com o chefe da boca-de-fumo ou com um Hannibal da vida. A verdade é que já não se fazem mais mentiras como antigamente.

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Felizes são aqueles que se permitem transcender essa etapa. Se permitir ao amor é descer do salto, é olhar na mesma altura, e não de cima pra baixo. Por trás daquele cara inseguro e insistente, pode estar a pessoa que lhe amará até seus últimos minutos. É sabido que, transgredindo a garota de poucas palavras, que vira a cara quando passa, que finge um olhar de desdém, pode haver alguém que dará amor até de olhos fechados. Dizer sim pra esse início é abrir uma brecha pro amor, e desistir é assinar o atestado de solidão. Curtir o nascimento do amor é dadivoso, mas antes é necessário que se passe pelo período de gravidez, com direito a todas as intempéries.

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A regra é instintiva: Pra presenciarmos o nascimento amor, é necessário que o façamos.

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Faça amor...

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