Eu e a Chuva

Ah, que saudade que eu estava da chuva. Sempre gostei de olhar pras gotas caindo e admirar como a chuva não discrimina ninguém. O Doutor, quando sai do seu Porsche Cayenne pra entrar no restaurante francês toma chuva. O mendigo, quando sai da sua morada improvisada com caixas de papelão e toldos velhos e sai vagando para implorar por um café, toma chuva.

A chuva não escolhe onde cair, a chuva não planeja nada, a chuva simplesmente acontece. É o fenômeno mais sincero da natureza. Ela cai simplesmente porque precisa cair, e quando tem que acontecer, ela cai e não há nada que ninguém possa fazer para impedir. A chuva não se frustra, a chuva não tem expectativas. Quando todos aqueles fatores propícios para que ela caia se concretizam, é inevitável. Não tem o que fazer.

A chuva lembra que somos todos parte de um todo, e o quão insignificante é a existência de “pensamento” no ser humano. Não adianta planejar, enxergar os futuros fenômenos do tempo se você esquecer o guarda-chuva. O acaso, o aleatório, o chamado “destino” é o Deus que rege toda nossa existência.

Não sei desde quando eu passei a ter esse tipo de pensamento tão digno de Alberto Caeiro. A gente vive a vida inteira pensando e planejando e quando chega num beco sem saída, ou acredita em algo superior ou simplesmente resolve viver e deixar sua vida ditar o ritmo, sem questionar ou se preocupar. Difícil pra quem tem a natureza questionadora simplesmente deixar de duvidar de tudo e questionar todos. Basta um simples fenômeno natural para que tudo passe a fazer sentido e a vida se torne simples de novo. Porque em Deus não consigo acreditar.

Como a ignorância, que uma vez abandonada não retorna, perdemos o paraíso, perdemos a felicidade. Perdemos a felicidade no dia que o homem das cavernas resolveu se comunicar com desenhos, perdemos a felicidade no dia que alguém reconheceu o ser humano como alguém superior aos outros animais. E talvez, a piada sejamos nós, aos olhos dos outros animais:

“E ainda se acham racionais.”

Diego Biagi
Enviado por Diego Biagi em 06/09/2010
Código do texto: T2481893
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