AS VÍRGULAS DA VIDA

AS VÍRGULAS DA VIDA

Ele acordou, não espreguiçou, olhou ao redor, a cama, a mulher que ainda dormia, ouviu uma musica que tocava ao longe, sentiu que não era mais ele,

pensou na noite anterior, o culto na igreja, as palmas, os risos das pessoas com suas bíblias nas mãos, ele tão elegante de paletó e gravata, era marido exemplar, pai devotado, trabalhador responsável, mas faltava-lhe algo que ele não conseguia distinguir, naquela manhã acordou para não ser mais ele, queria outras coisas, foi ate o banheiro, escovou os dentes, tomou o café frio, vestiu uma bermuda, a camiseta lilás, fazia calor, abriu o portão, respirou fundo, se dirigiu ate o bar mais perto, pediu uma cerveja, o homem atrás do balcão estranhou, “como podia, ele nunca havia bebido?” pensou em perguntar alguma coisa, mas deixou pra lá, não tinha nada com a vida alheia, colocou a cerveja no copo americano, ele ainda pediu um cigarro, deu a primeira tragada, tossiu, nunca havia fumado, bebeu. Saboreou a “liberdade”, todos que passavam La fora ficavam surpresos “mas ele?” pensavam. Logo correu a noticia, foram acordar sua mulher, (sempre acordam as mulheres) ela veio correndo com lagrimas nos olhos e apenas o olhou, seus filhinhos por sobre o muro o olharam, não disseram nada, ele também não, pagou a conta, deu sinal para o ônibus, sentou na cadeirinha dos trouxas, deu sinal, desceu sob o primeiro viaduto que viu, pediu licença abriu a porta de sua cela imaginaria, armou sua cama de papelão, deitou-se ali para nunca mais acordar...