A inteireza dos Andradas
Prezados,
Vou dar-lhes a conhecer um texto assaz antigo, de Vasconcelos Drummond, que há muito comigo tenho, resquícios dos bancos escolares de uma escola pública que ajudava então reforçar caráter, já formados no lar, e sem os custos de hoje, destarte isso ainda deixe um enorme legado de excluídos e mau formados, devido a depauperação dos princípios e valores do cidadão.
Podem espalhar se assim acharem que também ajudam, mas não sem antes fazer um comparativo dos momentos atuais e o período imperial, que diga-se também não era uma maravilha, a distância do povo já se fazia mostrar, e na corte, também existiam seus abusos, eis que hoje penamos em parte devido a essa época, mas haviam exemplos de farta preocupação com o erário.
"A Inteireza dos Andradas
Acerca da pobreza de José Bonifácio, que não possuia mais de trinta mil réis, quando foi preso e deportado, contarei uma anedota, que não será lida sem interesse.
Os ministros da Regência de D. Pedro reduziram seus ordenados à metade do que eram em tempo de D. João VI.
Ficaram com quatro contos e oitocentos mil réis anuais, pagos mensalmente.
José Bonifácio, recebendo quatrocentos mil reis em bilhetes do Banco, de um mês do seu ordenado, os meteu no fundo do chapéu, e no teatro lhe roubaram o chapéu e o conteúdo.
O primeiro ministro do Império do Brasil achou-se no dia seguinte sem ter com que mandar comprar o jantar. Não possuia nem um vintem mais, e seu sobrinho Belchior Fernandes Pinheiro foi quem pagou as despesas do dia.
Em conselho José Bonifácio referiu essa ocorrência e a extrema necessidade a que ela o reduzira e a sua família.
O Imperador entendeu que o ministro, visto a penúria em que se achava, devera ser indenizado, pagando-se-lhe outro mês de ordenado, e nesse sentido, deu ali as suas ordens ao ministro da fazenda.
Martim Francisco não obedeceu. Disse ao Imperador que não havia lei que pusesse a cargo do Estado os descuidos dos empregados públicos; que o ano tinha para todos doze meses, e não treze para os protegidos; e finalmente, pedia a Sua Majestade retirasse a sua ordem, porque não era exeqüível. Que ele, Martin Francisco, repartiria com seu irmão o seu ordenado, e que viveriam ambos com mais parcimônia naquele mês, o que era melhor que dar ao país o funesto exemplo de se pagar ao ministro duas vezes o ordenado de um só mês."
Fonte: Português 1a./2a. Série - José Baptista da Luz - Cia. Editora
Nacional - 17a. Edição - Exemplar No. 1815 - Pag. 124
(Estimo que seja de 1.965)
Marco Antonio Pereira