Amigos de verdade

“Obrigado por ter sido o Hitchcock hoje.” Falou isso e desligou o telefone. E só tive tempo de responder: “Um dia você ainda vai me agradecer”. O fato é que ele já estava agradecendo, "por ter sido o Hitchcock", mas já havia agradecido mesmo. Acho que ele estava confundindo “suspense” com “terror”, mas tudo bem.

Amigos são extremamente incômodos às vezes. Justamente porque falam a verdade. E a verdade muitas vezes incomoda mesmo. As pessoas preferem uma mentira feliz a uma verdade dolorida.

Os não-amigos frequentemente concordam com tudo. Claro, existem os não-amigos “malas”, os chatos de galocha, mas estes são facilmente identificados. Estou aqui me referindo aos não-amigos que se fazem de amigos, os que veem que o camarada vai se dar mal e deixam. Não movem uma palha, porque ajudar dá trabalho. É mais fácil e cômodo concordar. E concordando, serão momentaneamente confundidos com amigos.

Quem é amigo de verdade não se importa em fazer o papel da verdade incômoda, porque prefere o sabor amargo do remédio e ver quem gosta são e salvo. Quem é amigo de verdade sabe que por mais duras que sejam as palavras, se forem de coração, o sabor amargo vai durar pouco, e a consequência positiva (e duradoura!) do conselho valerá a pena.

Aquele que elogia o ridículo apenas para tranquilizá-lo não é um amigo de verdade. Porque tranquilizar ao custo de ridicularizar ainda mais perante os outros não ajuda de verdade. É uma falsa ajuda.

Os amigos de verdade servem para falar a verdade. Ou seja, “amigos de verdade” são “amigos da verdade”. São como poderosas lentes aos olhos míopes de quem, por alguma razão, vê a realidade distorcida.

(Catalão, 05/09/2010)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 06/09/2010
Reeditado em 06/09/2010
Código do texto: T2480857
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