VERDADE OU SINCERIDADE DA ARTE
 
Não posso falar em arte, nem em verdade e nem em sinceridade agora. Nenhum deles é necessário no momento. O momento pede outra coisa, eu nem sei o que é, mas sinto precisão de outro entendimento, de algo preciso e nem sei dizer o que é tal a indefinição nesta tarde. Eu ia dizer muita coisa, quando errei a palavra olvidar por ouvidar. E neste lapso me perdi em questionamentos que a palavra errada me levou ao distanciamento de sentir. Melhor então é fechar os olhos e não pensar em nada. Como defesa. Se pensar, adivinho que não será boa coisa.
Por estar sentindo, por não praticar, estar só indo, não estar a brincar.
Até estava, a brincar: eu voava em pleno ar.
Olvidar, ser esquecida, não posta a par, nem ser querida.
Brincava de estar brincando, de escrever, mas ninguém falando, nem atuando em ser.

A Arte. Começa com rabiscar, soltar a mão, o coração e libertar o pensamento. Antes de tudo a Arte é liberdade. É simplicidade. Não é arquitetar nada, nem visionar um objetivo, nada. Na hora que o “artista” quer fazer algo, já deixa de ser arte, ele vai fazer outra coisa. Na arte não se pensa, o artista sente e, às vezes nem sente mais, é mais forte que ele, é só a expressão que está saindo de dentro pra fora. Que o lirismo está na gente como o perfume está na flor. A arte se manifesta quase sempre quando o artista está em estado de beleza e é verdadeiro no seu olhar. Quando percebe um melão de São Caetano que nasceu na minha varanda do Rio de Janeiro, fica besta, nem ouve e nem se incomoda mais com o som do avião que passa no céu vindo ou chegando do aeroporto do Santo Dumont. Só absorve o amarelo lindo do fruto que os passarinhos plantaram aqui. E da maravilha que a vida é, duma plasticidade de pequenas escandalosidades de luz. A arte, como a poesia é uma necessidade sincera e verdadeira, imperiosa quase de expressar alguma coisa necessária de ser exposta. A arte é uma extensão de si. A Arte é um vínculo emocional, nada tem de racional. Como quem fala quem chora, ou ri, é uma forma de expressão que não pode esperar. Não há planejamento nem intenções.

Arte ”contemporânea” ou atual não tem o menor sentido de arte. Gente que faz “instalações” faz outra coisa, às vezes, belas coisas ou muito interessante de se ver, mas só. O que lhe dá significado é a Instituição em que é exposta, se um Museu, se uma a Bienal, ou se um Evento especial. É uma modernidade. Tais coisas viraram um negócio. Interesses de projeção, ou de ganhar fama, ou dinheiro. É fruto da racionalização da vida moderna. Pode ser uma maneira de se expressar também, mas não significa arte. É uma invenção diferente. É querer ser diferente.
A arte é sincera e verdadeira, é maior que o proprio autor. Nasce sem pensar. Nasce da força de uma beleza que quer se expressar: ela sai, é a arte.