Fato inusitado I

Por volta das nove da noite, estávamos eu e uma amiga, voltando da famigerada faculdade (onde o discente finge que aprende e o docente finge que leciona). Ambas fatigadíssimas de mais um dia de jornada dupla, voltando de ônibus, rumo ao terminal.

Para quem não sabe o que é um terminal de ônibus, é um lugar onde todas as tribos de todos os bairros de uma determinada região se encontram e se amassam dentro de latas motorizadas de quatro rodas que fazem trajetos rumo os mais remotos lugares dentro da metrópole imponente chamada “grande Fortaleza”. Na minha cidade tem uns seis ou mais e este terminal pelo qual uma massa de pessoas e eu passamos não é o que se possa chamar de um dos mais asseados ambientes públicos da minha cidade, e como todo ambiente deste tipo, está infestado dos mais asquerosos insetos. E é aí que entra o primeiro dos três fatos inusitados que me ocorreram neste fim de semana.

Uma barata tentando atravessar a via de ônibus.

Imagine por que uma barata teria de atravessar uma via a qual passam dezenas de ônibus, cada um rumo a sua parada, apenas para mudar de uma vala de esgoto à outra?

Será que o que tinha em uma não tinha na outra ou será que o tal inseto queria viver perigosamente em seu instinto animal?

Parte a barata rumo ao outra extremidade da via. Vem vindo um ônibus. Um gigante de lata cujo barulho ensurdecedor do motor deixa até os mais pacientes mortais com os nervos à flor da pele depois de um dia fatigante de trabalho, quanto mais uma minúscula e indefesa barata de esgoto frente a tamanho colosso de metal.

Mas ela não se intimida! Procura frestas entre uma e outra pedra do já tão machucado calçamento e já enxergando a iminência das imensas rodas de borracha desafia o perigo levantando as asas, mostrando seu traseiro magro, como se estivesse zombando, e enfiando-se numa das rasas locas rente ao chão.

O ônibus se vai, vem vindo outro, desta vez a tal barata, já no meio do caminho, não encontra outra fresta. Mantêm-se parada como se pela vibração do chão conseguisse distinguir a distancia que ainda a separa do seu inimigo. Decorridos alguns segundos volta a abrir as asas, mas desta vez (penso eu), como que para aprumar os “flaps” numa tentativa de melhorar a velocidade e aerodinâmica. Não há mais tempo! “É agora, ela vai morrer”, penso eu.

Por todo o tempo em que o ônibus passava por cima do local em que a barata estava ( o que não demorou muito),toda a estória desde que eu comecei a acompanhá-la passou diante dos meus olhos e qual não foi a minha surpresa ao notar que sim, o inseto continuava vivo!! E atravessando os últimos centímetros da jornada!

Ora, se dizem as más línguas que elas sobreviveram à bombas atômicas, o que é um ônibus de terminal frente a tão destemido inseto?

Kátia Santvs
Enviado por Kátia Santvs em 05/09/2010
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