EU E A PÊCA
Era uma vez........... Fui caçar com meu pai, quando ainda bem menino. Senti-me meio que cúmplice do meu herói, quando caçamos um belo tatu, logo cedinho. Saímos de casa ainda na tenra madrugada, pois, a caminhada até o local que meu pai havia planejado caçar era coisa de mais de 2 horas. A lua ainda nos acompanhou por um bom tempo, estrada a fora, até que o dia foi raiando e ela, encabulada, acabou se escondendo dentre as nuvens esparsas que se formavam no céu ainda meio escuro.
Mas o inusitado aconteceu. Caminhávamos pela picada afora, cachorro ainda amarrado na corrente e me puxando, quando ouriçou os pelos, rosnou forte, num claro sinal de que alguma caça estaria por perto. Meu pai me fez sinal para fazer silêncio, soltou o cachorro, que saiu em disparada e loco em seguida começou a acuar forte, a menos de 30 metros de nós. Chegamos rapidamente onde o cachorro acuava e lá estava ele, já cavando num rápido buraco debaixo das raízes de uma grande árvore. Meu pai retirou o cachorro, pôs na corrente, amarrou em uma árvore próxima, foi checar a toca. Pegou o facão da cinta, cavoucou rapidamente, olhou prá mim e disse baixinho. “Um tatu, está bem pertinho. Levamos sorte”. Em poucos minutos meu pai tirava o tatu da toca, sangrou o bicho, deixou o cachorro cheirar bem (ele dizia que tinha que deixar o cachorro cheirar a caça para ficar ainda mais caçador), pegamos a estrada e voltamos para casa, muito antes do que havíamos programado.
Chegando em casa, surpreendemos minha mãe que ainda estava com o café na mesa e meus irmãos ao redor. Ela propôs-se então a preparar o tatu ainda para o almoço, fazendo meu pai sorrir ainda mais satisfeito, realizado. Ao checar na dispensa, percebeu que faltavam os temperos indispensáveis para o assado de panela que idealizava para aquele almoço de domingo premiado. Eu já estava sentado na mesa, contando aos irmãos sobre a caçada e, claro, que mentia um pouquinho só, dizendo que eu é que havia tirado o tatu da toca pelo rabo, que meu pai só havia me ajudado, etc.
Meu Pai, muito gentilmente, interrompeu minha contação de vantagem e pediu para ir até a venda buscar os temperos que faltavam. Calculou rapidamente o tempo que eu levaria para ir e voltar, o que daria, mesmo que vagarosamente, uma hora de pernadas. Isso dizia que lá pelas 10 horas eu estaria de volta, a tempo do almoço ser preparado. Claro que prontamente peguei minha “funda”, pus no pescoço, peguei uma bolsa de pano, cruzei nos ombros, chamei o cachorro para me acompanhar na missão e lá fui eu.
E fui eu estrada afora, até a venda da freguesia, sentindo-me um príncipe caçador e já um herói mirim, já parecido com meu pai. Hora andava rápido, hora até corria. Resistia bravamente aos passarinhos abusados na beira da estrada. Não tirei a funda do pescoço, para não me deixar levar pela tentação de dar umas pelotadas e com isso perder tempo. Não podia perder tempo. Cheguei na venda. Pedi e peguei os temperos e quando saia de volta na rua, uns outros meninos jogavam "peca" (bolinha de gude), no meio da rua de areia, em cujo jogo eu era fera, um dos melhores da redondeza.
Parei só um pouquinho para uma olhadinha rápida. E me envolvi e me fascinei e entrei no jogo e não vi o tempo passar. Quando dei por mim, já passava do meio-dia. Sai correndo, correndo, coração batendo na canela. Fiz o caminho de volta em menos de meia hora, mas já era tarde. Corria e rezava o Pai Nosso, esperando o milagre do retrocesso do tempo. Não adiantou de nada. Acho que naquele domingo “Papai do Céu” estava de folga. Ou estava lá em casa me esperando para o almoço.
Quando cheguei em casa, meu pai me esperava na porteira, as barrigas da família roncando e o domingo que seria de festa, acabou se transformando na perda do trono do rei menino, que levou uma bela "tunda" de relho. Além da tunda, fui jurado de não mais ir caçar com ele. Claro que a promessa não se cumpriu e muitas outras caçadas fizemos e em muitos outros domingos almoçamos troféus. Logicamente que passei a detestar o jogo de “pêca” (bolinha de gude).
Era uma vez........... Fui caçar com meu pai, quando ainda bem menino. Senti-me meio que cúmplice do meu herói, quando caçamos um belo tatu, logo cedinho. Saímos de casa ainda na tenra madrugada, pois, a caminhada até o local que meu pai havia planejado caçar era coisa de mais de 2 horas. A lua ainda nos acompanhou por um bom tempo, estrada a fora, até que o dia foi raiando e ela, encabulada, acabou se escondendo dentre as nuvens esparsas que se formavam no céu ainda meio escuro.
Mas o inusitado aconteceu. Caminhávamos pela picada afora, cachorro ainda amarrado na corrente e me puxando, quando ouriçou os pelos, rosnou forte, num claro sinal de que alguma caça estaria por perto. Meu pai me fez sinal para fazer silêncio, soltou o cachorro, que saiu em disparada e loco em seguida começou a acuar forte, a menos de 30 metros de nós. Chegamos rapidamente onde o cachorro acuava e lá estava ele, já cavando num rápido buraco debaixo das raízes de uma grande árvore. Meu pai retirou o cachorro, pôs na corrente, amarrou em uma árvore próxima, foi checar a toca. Pegou o facão da cinta, cavoucou rapidamente, olhou prá mim e disse baixinho. “Um tatu, está bem pertinho. Levamos sorte”. Em poucos minutos meu pai tirava o tatu da toca, sangrou o bicho, deixou o cachorro cheirar bem (ele dizia que tinha que deixar o cachorro cheirar a caça para ficar ainda mais caçador), pegamos a estrada e voltamos para casa, muito antes do que havíamos programado.
Chegando em casa, surpreendemos minha mãe que ainda estava com o café na mesa e meus irmãos ao redor. Ela propôs-se então a preparar o tatu ainda para o almoço, fazendo meu pai sorrir ainda mais satisfeito, realizado. Ao checar na dispensa, percebeu que faltavam os temperos indispensáveis para o assado de panela que idealizava para aquele almoço de domingo premiado. Eu já estava sentado na mesa, contando aos irmãos sobre a caçada e, claro, que mentia um pouquinho só, dizendo que eu é que havia tirado o tatu da toca pelo rabo, que meu pai só havia me ajudado, etc.
Meu Pai, muito gentilmente, interrompeu minha contação de vantagem e pediu para ir até a venda buscar os temperos que faltavam. Calculou rapidamente o tempo que eu levaria para ir e voltar, o que daria, mesmo que vagarosamente, uma hora de pernadas. Isso dizia que lá pelas 10 horas eu estaria de volta, a tempo do almoço ser preparado. Claro que prontamente peguei minha “funda”, pus no pescoço, peguei uma bolsa de pano, cruzei nos ombros, chamei o cachorro para me acompanhar na missão e lá fui eu.
E fui eu estrada afora, até a venda da freguesia, sentindo-me um príncipe caçador e já um herói mirim, já parecido com meu pai. Hora andava rápido, hora até corria. Resistia bravamente aos passarinhos abusados na beira da estrada. Não tirei a funda do pescoço, para não me deixar levar pela tentação de dar umas pelotadas e com isso perder tempo. Não podia perder tempo. Cheguei na venda. Pedi e peguei os temperos e quando saia de volta na rua, uns outros meninos jogavam "peca" (bolinha de gude), no meio da rua de areia, em cujo jogo eu era fera, um dos melhores da redondeza.
Parei só um pouquinho para uma olhadinha rápida. E me envolvi e me fascinei e entrei no jogo e não vi o tempo passar. Quando dei por mim, já passava do meio-dia. Sai correndo, correndo, coração batendo na canela. Fiz o caminho de volta em menos de meia hora, mas já era tarde. Corria e rezava o Pai Nosso, esperando o milagre do retrocesso do tempo. Não adiantou de nada. Acho que naquele domingo “Papai do Céu” estava de folga. Ou estava lá em casa me esperando para o almoço.
Quando cheguei em casa, meu pai me esperava na porteira, as barrigas da família roncando e o domingo que seria de festa, acabou se transformando na perda do trono do rei menino, que levou uma bela "tunda" de relho. Além da tunda, fui jurado de não mais ir caçar com ele. Claro que a promessa não se cumpriu e muitas outras caçadas fizemos e em muitos outros domingos almoçamos troféus. Logicamente que passei a detestar o jogo de “pêca” (bolinha de gude).