EMPATIA OU SIMPATIA?
Sem nem partir para uma definição “científica”, à moda Aurélio ou Houaiss, já pelo baixo, aqui, vou logo sacramentando meu preto no branco de que e m p a t i a é uma queda danada, sem explicação alguma, que você sente por alguém.
Mas sempre é bom matar a cobra e mostrar o pau. E, na voz do próprio Aurélio, veja-se o que ele diz, falando pela boca da Psicologia: “Tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa.”
Alguém aí entendeu do riscado? Nem eu, também, porém só um pouquinho do angu é que eu papei. Terminologias arrevesadas, assim, vindas de línguas e terras estranhas, a gente engole como os marrecos que caçam piabas no açude.
Já a s i m p a t i a, segundo um especialista na Arte Poética, esta é ali na orelha com o amor. Umbilicalmente. Com ele, a simpatia come no prato. Pois foi poeta de fama e escama que notou a coisa como ela é e sapecou-a num poema, algo bem assim:
“Simpatia é o sentimento / que nasce num só momento, / sincero no coração...” E, lá no fim do texto o versado bardo conclui: “... Simpatia é quase amor!”
Para não deixar impune o dicionarista mor, vamos ver a complexidade do segundo conceito, envolvendo nuances tais como 'participação em, ou sensibilidade ao sofrimento do outro', 'compaixão', etc., uma loucura de detalhes etimológicos.
Agora prepare o olho e as ouças para compreender com carinho o que, no crivo do Aurélio, vem a ser a danada e afamada simpatia, aqui abrindo e fechando as aspas:
1. Tendência ou inclinação que reúne duas ou mais pessoas.
2. As relações que há entre pessoas que instintivamente se sentem atraídas entre si.
3. Sentimento caloroso e espontâneo que alguém experimenta em relação a outrem.
4. Primeiros sentimentos de amor.
Como não quero complicar a vida de ninguém, assuma você mesmo (ou mesma) a sua melhor opção. Só sei que nunca fiz simpatia nenhuma para pegar no bicho nem saber que “buena dicha” eu iria ter, doravante, nos amores.
Deu-se assim. A moça que, de chofre, achei mais feia, na faculdade, fora justamente aquela com quem me peguei pesado e de tal ordem que, durante os anos todos, lá, passei a ter e cultivar o maior e melhor pega-pega de amizade.
Foi numa das primeiras aulas do primeiro semestre. Fiz uma pergunta ao mestre da explanação e ela, a N..., sentada mais à frente, virou-se toda para mim, arregalou-me um grande olho verde de meter pé-atrás em qualquer atrevido. Confesso que pensei, ali em cima do ato – “ô mulher feiosa!”
Engano muito ledo!... E que alma grande e generosa tem, ainda hoje, aonde ela vá, aquela minha colega que virara das minhas maiores amigas.
Viiiiiche!... Urupema de olhão em cima de mim, aí foi quando cubei a tipo, bem no planeta de olho dela; depois, muito de riba abaixo, e aí começara não sei se a tal empatia ou simpatia. Pelo jeito e de modo genérico, no entanto, falo de boca cheia que foi simpatia, pois o resto do pessoal, ao longo dos quatro anos, achava sempre que ali rolava namoro. E não rolava mesmo. Só a simpatia e a empatia, suponho que juntas, a comer de esmola.
Bem verdade que, apenas no segundo semestre do final do curso, ali de agosto em diante, a gente manteve um ‘affaire’ meio sem muita convicção, de ambos os lados, beijinhos e mais uns pegas de leve, com toda aquela civilidade da cidadania.
Tantos natais decorridos, pois não, e agora quero atestar que o meu caso de conversas e cochichos com a colega N..., nos bancos da faculdade e até fora deles, foi um mero caso híbrido de empatia e simpatia, ambos muito juntos e misturados. Sei lá como é que vou desmembrar uma da outra coisa! Para mim, tudo bem, foi algo bem resolvido.
Não faço simpatias, nunca as fiz, não, por volta das épocas de fogueiras juninas, a fim de adivinhar casamento de seu ninguém. Mas, em acepção bem distinta, entre mim e a dita N..., a nossa simpatia foi em tempo real. Aliás, saudades também entram nos bois da história. Onde andará a N..., a traduzir textos em, pelo menos, três idiomas? Mania lá dela, correspondente que já era desde os bancos do 3º grau.
Empatia ou simpatia? Soubesse eu, daria uma boiada de vacuns, caprinos e suínos para volver àqueles idos bons de muito mais fermentação política estudantil do que de estudos efetivos, de fato, verdadeiramente estudos debulhados pela cátedra acadêmica.
Uma única vez foi que voltei a ver a moça, após aquelas nossas doideiras, quando matávamos aulas e íamos pegar um sorvete no “Areoporto” Pinto Martins, então na Casa d’Itália. Morto o curso, uma só vez me encontrei contigo, menina, e tu ias acompanhada de uma peruana, no centro de Fortaleza; amizade tua lá das correspondências em espanhol.
Pena mesmo, um prejuízo sem fim, foi o que me aconteceu quando perdi aquele caderno de Linguística, todo caprichado, cheio de diagramas lindos, em linda caligrafia, que tu gentilmente rabiscaste e me deste de presente.
Mil beijos em ti, N...! Mas, ai!... Que doída saudade de ti e daquele mimo de meu caderno, contendo tantos diagramas estapafúrdios. Tu ainda te lembras? E os diagramas linguísticos eram o meu calcanhar de Aquiles, as ditas por mim – jocosamente – “macambiríadas”.
Fort., 05//09/2010.