CAFÉ DA PAZ
 
Sonhei com Altivo e outros personagens esparsos da família, os meus filhos e eu, indo juntos e descontraidamente em um caminho impreciso, papeando todos e era alegre, prazeroso. Acordei cedo. Bem.
Pensei no Altivo. Meu sobrinho, filho da Christina, minha irmã, nascido em casa, àquela linda casa da Casemiro de Abreu. Parto em casa, e tempo em que a mãe não gritava para “dar à luz”, tudo ocorria durante a noite e em silêncio. Eu tinha dezessete anos e era o primeiro bebê nascido na família, ainda todos vivos.
Tudo era escondido. Ocultado dos menores. Como para não saber que a vida seria difícil, cheia de dores e dissabores, mas que se acreditasse que tudo seria sempre bom e felicidades plenas. Como a Christina deve ter sofrido!
Mas quase de manhã, minha mãe sorrindo uma felicidade incrível, trás nos braços, enrolado em cobertas o neném mais lindo: era o Altivo. Amor à primeira vista, apresentado a mim que acabara de nascer, e foi o encanto da nossa casa em que morávamos todos juntos, até então. A partir dali, por muitos anos, o Altivo era meu e do meu Pai, o avô. Pra nós dois a vida mudou. Altivo era um encanto, a primeira criancinha nas nossas vidas de mineiros recém chegados a Petrópolis, Achamos o nome horrível, que era do outro avô dele, nome de homem velho, mas a vida vai passando e Altivo foi ganhando conotação de encanto, de beleza, de descobertas ternuras inimaginadas, era nosso maior tesouro. A mãe dele aceitava e nos deixava amá-lo como o encanto mais doce sobre a face da terra.
Pensei no Altivo. Resolvi ir até lá onde está morando, o Pavilhão Neves Manta que foi parte da Clínica da minha Mãe, convidá-lo a um café comigo, no Catetinho, cismando nas nossas ancestralidades. Portão aberto entrei, calma, serena: presença. Apoio. Chamei-o em alta voz. “Vem tomar café comigo!” sabia que estaria ouvindo.
Saí. Voltei pra minha cozinha, preparei a mesa e um café novo. Cheiroso. Sob o pratinho da xícara dele, botei duas notas de cem e mais outras miúdas. Sabia que anda na pior. Ele veio. Conversa alegre de amigos e amor. Ao fim, descobriu o dinheiro e pegou com alegria de criança confiante, agora um homem. Saiu na sua moto. Ria!
Este convite é um jeito de estender a mão e homenagem ao dono da terra da sua avó. E eu, uma atitude de “ordem no mundo” e força como dona da terra de sua mãe.

Somos filha e neto da terra. Somos tia e sobrinho. Parecido com mãe e filho.

Ação nas mãos de Deus.