EU VIVO SÓ (CRÔNICA DE UMA VIAGEM)
“Eu vivo só... só-ó-ó... só-ó-ó... Nem sei se é porque que eu quis...”.
“Você não sabe o que é realmente viver só, Leo Jaime. Eu sei.” – pensa enquanto ouve seu CD de músicas de dor-de-cotovelo, como ele mesmo batizou.
“Ôu, calma aí motorista. Eu saí pra espairecer, pô! Pra que a pressa?”, diz a um caminhoneiro que insiste em buzinar atrás dele.
“Tá, tudo bem que o pôr-do-sol está bonito, que a estrada é mais bonita ainda, mas... que saco é viajar sozinho! Se eu já não estivesse tão longe, voltaria pra casa. Mas eu disse que viajaria e agora vou em frente.
Não é apenas uma viagem, é uma necessidade. Preciso acalmar este coração, buscar um novo rumo pra minha vida.”
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“Credo, como isto aqui é parado durante a semana! Se eu queria isolamento vim ao lugar certo. Pelo menos a fama de Ubachuva não se confirmou.
Hummm, uma lan house. Será que alguém escreveu pra mim? Será que alguém deixou recadinho? Não, pára com isso! Você saiu de casa justamente pra se desligar um pouquinho daquele computador. Olha ali umas menininhas. Melhor do que qualquer pc né? Será?
Bom, agora falta pouco. Qual era mesmo o nome da pousada? Tinha um nome meio espanhol. Mas é fácil, fica quase em frente ao aquário. Opa, tô lembrando disto aqui. A ponte, logo em seguida o aquário. Isso, é logo ali... Pousada Don Diego.
Daqui há pouco estarei numa daquelas mesinhas tomando um suco.”
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“Ah, TV a cabo! Pelo visto será minha companheira nos próximos dias. Mas espera aí, o que estou dizendo? TV eu assisto em casa. Tá, já está meio tarde e por hoje passa, tá? Mas amanhã vamos curtir um pouco. Afinal foram quatro horas de estrada e esta viagem precisa valer a pena.”
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“Cara, que friaca fez esta noite! Pelo menos o cobertor era quentinho. E dormir em cama de casal é bom demais!
Uma das melhores coisas de se viajar é isto que está na minha frente: o café da manhã. Se eu pudesse tomaria vários cafés da manhã por dia. Aliás, viveria de café da manhã. Tem coisa melhor do que pãozinho com manteiga, geléia de morango, café com leite e suco de laranja? Só este mamão é que não vai descer. Blergh!
Barriguinha cheia, é hora de começar a curtir esta viagem. Pra onde eu vou hein? Nossa, tanta coisa pra fazer!”
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“Eu me odeio! Não acredito que com tantas opções acabei entrando logo aqui, nesta lan house. Fala sério! Se bem que é legal saber que algumas pessoas não esquecem da gente né? De repente já não me sinto assim tão sozinho.
Ah, lembrou de mim e resolveu aparecer, é? Ah, esta aqui eu tenho que responder. Hummm, o que será que está acontecendo com ela? Tentando passar vírus pra mim, parceiro? Se liga! Nossa, esta menina é muito bonita, pena que... Esta é tão carinhosa comigo! Esta também. Por isso não largo esse Orkut viu...
Bom, vambora? Chega de net por hoje, né?”
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“Mar, ah mar lindo! Que saudade de flutuar nas suas ondas, viu?”
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“Mocinha, já é o segundo ou terceiro olhar que você joga pra mim. Se eu não estivesse com a cabeça tão longe eu até chegava viu. Será que chegava mesmo? Tímido desse jeito? Tá, admito, não teria coragem... hehehe... Ô saudade da net. Lá é tudo tão mais fácil.”
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“Big Mac e National Geographic: programão para uma noite fria! Acho que tá na hora de voltar pra casa.”
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“Credo, que dia feio! Ainda bem que vou embora.”
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“Eu vivo só... só-ó-ó... só-ó-ó... Nem sei se é porque que eu quis...”.
“Ê Leo Jaime, ainda nessa choradeira? Ser só não é algo assim tããão ruim. Faça como eu e deixe pra lá os caminhoneiros com suas buzinas, curta a estrada, curta a vida.
Eu por exemplo descobri que há muitas pessoas carinhosas ao meu redor, gente que faz a vida valer a pena. Ser só não significa ser solitário.
É tudo uma questão de se dar a oportunidade de ser feliz.”
E o Leo Jaime cantando: “Eu vivo só... só-ó-ó... só-ó-ó... E acho acho até que sou feliz...”.
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*Nota do autor: 30.Mai.08