CIRANDA DO CRIOULO DOIDO

Três vozes femininas maduras entoam toadas de criança logo aqui no prédio, um andar acima do meu. Quem será? Avó, mãe e filha? Tia, prima e sobrinha? Três moças curtindo um senhor pileque? Cantam alto, desentoadas, esgoeladas. Um tipo de “cirandinha do crioulo doido” deve coreografar com passinhos combinados a cantiga, pois meu teto treme buliçoso. O lustre enlouquece sobre minha testa pendendo pouco de um lado a outro, semelhante ao pêndulo daqueles velhos cucos. E não tem como parar a roda das três, tomadas que estão por essa alegria gratuita da infância... O barulho já toma níveis insuportáveis, mas não serei eu quem vai reclamar ao síndico. Não sou de reprimir as manifestações sinceras da puerícia, mesmo que tardias. Deus abençoe as criancinhas, inclusive as que usam sutiã, meia-calça e calcinha.