Neurótico

Fazia análise durante quatro anos. Foi bater na psicoterapia por conta de batimentos muito irregulares no coração.

Tinha o seu caderno de sonhos. Anotava todos eles, e discutia com o analista. Discutia não é a palavra. O médico. Imagine, este era médico, limitava-se a ouvir. Vez por outra dava alguma sugestão, e disso não passava.

E as sudoreses, medo de morrer pelo coração disparado, continuavam.

Até que um dia, o coração só bateu certo após uma injeção na veia de adenosina, um componente celular.

Continuou com os sonhos, desesperos e medos. O ‘genial’ psicoterapeuta, originariamente ginecologista, continuava palpitando e levando o seu santo dinheirinho por consulta. É muita pretensão, quem não conhece nem as ligações do tálamo com o resto do cérebro, arrogar-se em analista.

Eles existem, é bem verdade, mas por experiência própria e profunda meditação do ser humano. São poucos. Pouquíssimos. Os maiores mestres confessam que só obtiveram êxito em quarenta por cento dos pacientes de casos simples. Não se conhece ‘cura’ em casos mais complicados.

O fato é que, durante uma taquicardia que foi revertida por especialista, o pobre paciente ouviu palavras mágicas. “Isto tem cura, hoje.”

- Cura? Como?

- Basta fazer um exame de cateterismo. Se houver anomalias, o médico faz a ablação.

- Mas eu nunca ouvi falar nisto. Ablação? O que é isto?

- É a extirpação de nervos, sem função. Feita por rádiofrequência.

- Sem perigo?

- O êxito é de noventa e cinco por cento.

Fez a ablação. Três nervos causavam o transtorno. Defeito congênito.

Nunca mais teve qualquer problema.

Até hoje, tem vontade de pegar sua Colt quarenta e cinco e cobrar o que pagou ao médico ‘coruja’.

Afinal, em moeda corrente atual, foi trapaceado em trezentos mil reais.

Mais cedo, mais tarde, ele vai ter seu dinheiro de volta.

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 03/09/2010
Reeditado em 03/09/2010
Código do texto: T2476255
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