Seta de setembro

Seta de Setembro

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

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Sete de setembro! O que foi mesmo que aconteceu neste dia?

O que se comemora nesta data? Qual feito heróico marcou a história?

Por mais que assista aos programas de televisão e veja pelas ruas e avenidas tantos soldados marchando para lá e para cá, não consigo atinar com o fio da meada. Embora seja brasileiro nato, não vim da nata, ou seja, não nasci em berço esplendido, nem com aquilo virado para a lua.

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Confesso, todavia, que me sinto traído como filho da terra. Como os índios que estão sendo dizimados. Como o Amazonas invadido por gente estranha vindo de outros mundos em busca das nossas riquezas. O que aconteceu em Sete de Setembro? Ninguém sabe? Ah!, perdão, não foi como o sete, foi com a seta!...

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Algum maluco quebrou a seta. É isso: destruíram a Seta?

A propósito, a seta... Que seta é essa? Indicava o quê? Algum rumo que todos nós precisássemos seguir? Algum caminho a tomar para se chegar, quem sabe, a descoberta de algum segredo importante, ou a um feito maravilhoso, como por exemplo, o de acabar com a pouca vergonha que assola o País inteiro? Talvez, quem sabe, bater de frente com os cabeças do PCC, ou com os assassinos de rostos ocultos de uma infinidade de criaturas inocentes que perderam suas vidas estupidamente porque encontraram em seus caminhos um punhado de balas perdidas?

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Afinal o que se comemora nesse sete, e por que alguém está falando tanto nessa seta de Setembro?

Vamos pesquisar: segundo os livros, a história, ou dito de outra forma, a lorota, foi a seguinte: aconselhado por José Bonifácio, Dom Pedro viajou para São Paulo. José Bonifácio queria Dom Pedro longe da mulher, pelo menos por uns meses. Eles viviam brigando igual gato e rato e Dom Pedro, nessas brigas tinha por mania quebrar os pratos de porcelana real que pertenciam a sua sogra, a mãe de Dona Leopoldina. Havia um outro objetivo em jogo. Era Dom Pedro conversar, o quanto antes, com os políticos paulistas, para tentar pôr fim às discordâncias que havia entre eles. Uns queriam derrubar um presidente que nem havia sido escolhido, outros pedir mais dinheiro ao FMI. Corrente paralela, queria, porque queria, fosse aberta uma CPI para saber porque José Bonifácio tinha tanto poder sobre Dom Pedro. Enquanto Dom Pedro viajava, chegavam ao Rio de Janeiro novos decretos de Lisboa anulando as falcatruas que ele havia feito por aqui e exigindo sua volta imediata para Portugal.

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De São Paulo, Dom Pedro foi a Santos tomar um bom banho de mar e queimar um pouco o corpo que era branco igual papel. E visitar uma mulher bonita e gostosa, na verdade uma de suas muitas amantes por aqui arranjadas desde que aportara no Brasil. Na viagem de volta, Dom Pedro recebeu um emissário que vinha do Rio de Janeiro. Nesse momento, Dom Pedro já se encontrava às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo.

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O tal emissário entregou-lhe uns decretos e as cartas: uma de José Bonifácio e outra de Dona Leopoldina, mulher de Dom Pedro, aconselhando-o a proclamar a Independência e voltar logo para casa, ou quando chegasse iria encontrá-la nos braços de seu segurança pessoal. Depois de ler os decretos e as cartas, Dom Pedro, furioso, dirigiu-se aos soldados e às pessoas que o acompanhavam, arrancou de suas roupas as cores portuguesas e disse:

“Laços fora, soldados! Camaradas! As Cortes de Lisboa querem mesmo escravizar o Brasil. E o viado do cara que cuida da segurança pessoal da minha mulher, quer me botar um belo de um par de chifres. Cumpre, portanto, declarar já a minha independência. Estamos definitivamente separados de Portugal. Foda-se o resto...”

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Dizem dois autores que cuidaram da biografia de Dom Pedro, foi nessa hora, levantando a espada acima da cabeça, gritou:

“Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil. Brasileiros, a nossa divisa de hoje em diante será: Independência ou Morte”.

Isto é o que está dito e o que conta a história, por sinal, escabrosamente mentirosa. Não havia nenhum cavalo por perto, nem Dom Pedro montou em um para desembainhar sua espada. Aliás, nem espada havia. Ele levantou, sim, acima da cabeça, os decretos e as cartas e gritou, gritou não, berrou:

“Camaradas, estou com uma diarréia dos diabos, por favor, me achem uma boa moita, tenho que aliviar a barriga ou a bosta vai me subir à cabeça”.

Era o dia 7 de setembro de 1822. Nada, portanto a ver com a seta que estamos tentando tratar aqui.

Com este compromisso assumido por Dom Pedro, às margens do riacho Ipiranga, onde, aliás, ele e seus soldados cansaram de lavar o rego de suas bundas sujas, o Brasil sentiu o cheiro forte de sua primeira e grande cagada. Como se pode ver, não houve nenhum feito heróico. A não ser, claro, pelo fato do príncipe regente, na falta de papel sanitário, quebrar, cheio de raiva, a seta (finalmente atinamos com a seta) de indicação para o Rio de Janeiro, e, pendurar nela, um pedaço de sua vestimenta real, com a qual limpara seu belo e magro traseiro num dia ensolarado de setembro.

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 57 anos é jornalista

Aparecidoescritor
Enviado por Aparecidoescritor em 03/09/2010
Código do texto: T2475910