Ensaio Adolescente (Parte III)
Alma e corpo vivem um conflito irreconciliável. Dualidade sem síntese, que não ocorre mesmo no momento do supremo gozo.
A convivência entre pessoas que se amam tende a estabilidade das emoções, como se os estádios da paixão e do amor pudessem ser medidos em cristas de ondas de energias.
Num medidor cibernético tal estabilidade, no caso do amor seria uma leitura cujas ondas teriam sempre amplitudes iguais, e a vida neste cenário, visto mais a fundo, um marasmo. Já considerando-se a paixão, seria uma outra história... As ondas assumiriam amplitudes estrategicamente eventuais...
As pessoas quando tornam o amor 'oficial' através da modernamente chamada 'relação estável', ou do tradicional casamento 'certificam' suas paixões em cartório. Esta 'certidão' em síntese admite como constante o amor, a ajuda mútua, o compromisso com a sobrevivência recíproca e tudo que se fizer necessário para tal.
Entretanto as amadas e amadores, não percebem em tempo hábil que a convivência pele a pele, dia a dia, olho a olho, é uma negação do conflito entre corpo e alma. Embate que logo aparece implacável porque não pode ser negado, pois é uma realidade concreta, a desequilibrar os Alter-egos transformando-os em 'eguinhos'.
É assim que se perde todo o senso de amor próprio. Esse desequilíbrio quando não percebido a tempo faz com que a personalidade mais forte, que se sobreponha, entre os consortes, aniquile o outro - o alvo do confronto, no cotidiano, quer seja ele ou ela - primeiro psicologicamente e depois materialmente. A rotina contém o enfrentamento diuturno entre o amor e o ódio, que os vícios e as manias, dos envolvidos na, convivência tornam os conflitos mais acirrados.
Assim sendo mesmo quando um casal é próspero e muitas batalhas foram vencidas, o detentor do titulo de provedor ou provedora, nunca se sente suficientemente valorizado, porque quase sempre não lhe são dados os créditos de seu esforço, de sua dedicação.
Na verdade os corpos querem, mas as almas se devoram, porque estão a descoberto, indefesas na verdade que emana de cada queda, cada fraqueza, cada deslize, compartilhado em nome do amor entre homem e mulher. E há culpa e acusação no tempo de cada olhar 'certificado'.
Neste contexto de corpo e alma... Era uma vez, dois adolescentes, ele e ela.
Ele definiu sua escolha, pressionado pelas opções e erros advindos da visão de mundo dela. Ela não o deixou 'escapulir', diante de seus deslocados enganos, que a levariam inexoravelmente a não ser mais pura, se expondo ao julgamento social, por trazer na barriga um filho dele. Isto quando a pureza era um passaporte para aquele tal 'certificado'.
Enquanto ela só pensava naquela imensa barriga crescendo, ele pensava em tudo que teria de desistir para assumir mãe e filho... Aborto para eles não seria a opção. Logo perceberam que a união apenas pela criança, não seria o mais adequado critério de avaliação. A separação parecia inevitável. Ele proveria as necessidades da mãe e do filho e teriam um tempo para organizarem sua vida. Enquanto a relação amadurecia no tempo, mostrando qual o caminho a seguir no qual os dois se sentiriam mais proximo de suas aspirações adolescentes.
E como dizem G. Azevedo e G. Vandré, foi assim que se sentiram e quase se despediram: 'Já vou embora, mas sei que vou voltar/Amor não chora, se eu volto é pra ficar /Amor não chora, que a hora é de deixar /O amor de agora, pra sempre vai ficar /Eu quis ficar aqui, mas não podia /O meu caminho a ti, não conduzia /Um rei mal coroado, /Não queria /O amor em seu reinado /Pois sabia /Não ia ser amado…'
Mas todos são puros e puras até que fatalmente um dia deixam de o ser. Assim muitos 'Eles' continuam a ser arrastados para a redenção, sem imaginar que nem toda fruta é maçã… E nem toda culpa é cristã.
Portanto, ele e ela não chegariam a se despedir. A virtude dela seria outorgada no contraponto das ações dele, e ele pagaria caro, pela 'iniciação' e se transformaria em 'homem' com H, um homem de familia. Ela com sua inocência resgatada, se tornaria uma respeitável 'dona'. Ele dando-lhe tudo. seguiria, entre renuncias e promessas.
E assim viveriam infelizes para sempre. Ele a seguiria amando, mas não a preferindo, quase sempre. Mas sempre voltaria para casa, mais motivado quando podia exercer a sua 'secreta' múltipla escolha.
Na efemeridade dos momentos de liberdade exercitaria sua 'múltipla escolha' em ambientes onde ele encontraria o espaço que a alma necessitaria para reconciliar-se com o corpo. Conservando assim, seus ouvidos longe das desqualificações desferidas por ela, do alvorecer ao ocaso de cada dia.
Assim ele e ela descobrem, muito tarde, como diz Alceu Valença, que 'nem todo beijo é pecado', 'nem todo réu é culpado, nem toda luz é manhã…´ E seguem exigindo respeito, e sempre que se vêem no espelho, desejam voar…
Ibernise.
Barcelos (Portugal), 31.08.2010.
Núcleo Temático Filosófico.
Alma e corpo vivem um conflito irreconciliável. Dualidade sem síntese, que não ocorre mesmo no momento do supremo gozo.
A convivência entre pessoas que se amam tende a estabilidade das emoções, como se os estádios da paixão e do amor pudessem ser medidos em cristas de ondas de energias.
Num medidor cibernético tal estabilidade, no caso do amor seria uma leitura cujas ondas teriam sempre amplitudes iguais, e a vida neste cenário, visto mais a fundo, um marasmo. Já considerando-se a paixão, seria uma outra história... As ondas assumiriam amplitudes estrategicamente eventuais...
As pessoas quando tornam o amor 'oficial' através da modernamente chamada 'relação estável', ou do tradicional casamento 'certificam' suas paixões em cartório. Esta 'certidão' em síntese admite como constante o amor, a ajuda mútua, o compromisso com a sobrevivência recíproca e tudo que se fizer necessário para tal.
Entretanto as amadas e amadores, não percebem em tempo hábil que a convivência pele a pele, dia a dia, olho a olho, é uma negação do conflito entre corpo e alma. Embate que logo aparece implacável porque não pode ser negado, pois é uma realidade concreta, a desequilibrar os Alter-egos transformando-os em 'eguinhos'.
É assim que se perde todo o senso de amor próprio. Esse desequilíbrio quando não percebido a tempo faz com que a personalidade mais forte, que se sobreponha, entre os consortes, aniquile o outro - o alvo do confronto, no cotidiano, quer seja ele ou ela - primeiro psicologicamente e depois materialmente. A rotina contém o enfrentamento diuturno entre o amor e o ódio, que os vícios e as manias, dos envolvidos na, convivência tornam os conflitos mais acirrados.
Assim sendo mesmo quando um casal é próspero e muitas batalhas foram vencidas, o detentor do titulo de provedor ou provedora, nunca se sente suficientemente valorizado, porque quase sempre não lhe são dados os créditos de seu esforço, de sua dedicação.
Na verdade os corpos querem, mas as almas se devoram, porque estão a descoberto, indefesas na verdade que emana de cada queda, cada fraqueza, cada deslize, compartilhado em nome do amor entre homem e mulher. E há culpa e acusação no tempo de cada olhar 'certificado'.
Neste contexto de corpo e alma... Era uma vez, dois adolescentes, ele e ela.
Ele definiu sua escolha, pressionado pelas opções e erros advindos da visão de mundo dela. Ela não o deixou 'escapulir', diante de seus deslocados enganos, que a levariam inexoravelmente a não ser mais pura, se expondo ao julgamento social, por trazer na barriga um filho dele. Isto quando a pureza era um passaporte para aquele tal 'certificado'.
Enquanto ela só pensava naquela imensa barriga crescendo, ele pensava em tudo que teria de desistir para assumir mãe e filho... Aborto para eles não seria a opção. Logo perceberam que a união apenas pela criança, não seria o mais adequado critério de avaliação. A separação parecia inevitável. Ele proveria as necessidades da mãe e do filho e teriam um tempo para organizarem sua vida. Enquanto a relação amadurecia no tempo, mostrando qual o caminho a seguir no qual os dois se sentiriam mais proximo de suas aspirações adolescentes.
E como dizem G. Azevedo e G. Vandré, foi assim que se sentiram e quase se despediram: 'Já vou embora, mas sei que vou voltar/Amor não chora, se eu volto é pra ficar /Amor não chora, que a hora é de deixar /O amor de agora, pra sempre vai ficar /Eu quis ficar aqui, mas não podia /O meu caminho a ti, não conduzia /Um rei mal coroado, /Não queria /O amor em seu reinado /Pois sabia /Não ia ser amado…'
Mas todos são puros e puras até que fatalmente um dia deixam de o ser. Assim muitos 'Eles' continuam a ser arrastados para a redenção, sem imaginar que nem toda fruta é maçã… E nem toda culpa é cristã.
Portanto, ele e ela não chegariam a se despedir. A virtude dela seria outorgada no contraponto das ações dele, e ele pagaria caro, pela 'iniciação' e se transformaria em 'homem' com H, um homem de familia. Ela com sua inocência resgatada, se tornaria uma respeitável 'dona'. Ele dando-lhe tudo. seguiria, entre renuncias e promessas.
E assim viveriam infelizes para sempre. Ele a seguiria amando, mas não a preferindo, quase sempre. Mas sempre voltaria para casa, mais motivado quando podia exercer a sua 'secreta' múltipla escolha.
Na efemeridade dos momentos de liberdade exercitaria sua 'múltipla escolha' em ambientes onde ele encontraria o espaço que a alma necessitaria para reconciliar-se com o corpo. Conservando assim, seus ouvidos longe das desqualificações desferidas por ela, do alvorecer ao ocaso de cada dia.
Assim ele e ela descobrem, muito tarde, como diz Alceu Valença, que 'nem todo beijo é pecado', 'nem todo réu é culpado, nem toda luz é manhã…´ E seguem exigindo respeito, e sempre que se vêem no espelho, desejam voar…
Ibernise.
Barcelos (Portugal), 31.08.2010.
Núcleo Temático Filosófico.