SHAME ON YOU! (Em homenagem a Guilherme Arantes)
Recentemente, tive o prazer de participar do maior Congresso de Educação do Brasil, o “Conhecer”. O evento é produzido pela Máxima Eventos, dirigida por Vicente Falcão, um empresário que merece todo o nosso respeito pela iniciativa, pela excelente qualidade do evento (de modo geral), e pela consideração que ele demonstra ter com todos os participantes.
Este ano a programação contou com palestrantes do nível de Bia Bedran, Caio Feijó, Clarisse Leal, Danilo Gandin, Professor Gretz, Maria Dolores, Max Haetinger e Gabriel O pensador. Buscando divertir e agradar “gregos e troianos”, o evento sempre oferece dois shows, um voltado para o pessoal de ouvido mais apurado e outro para aqueles que conseguem atender comandos de axé como “SAI DO CHÃO! SAI DO CHÃO! SAI DO CHÃO!”, sem se cansar.
Na primeira noite, após a apresentação da excelente contadora de histórias, Bia Bedran, o auditório com cerca de 4000 pessoas recebeu Guilherme Arantes para o seu show. Um pouco gordinho e com marcas deixadas pelo tempo (e quem de nós que o viu no auge da fama também não envelheceu, não é mesmo?) ele começou a tocar e cantar virtuosamente algumas das centenas de músicas de sua autoria, umas muito conhecidas como “Planeta Água”, outras nem tanto.
Intercalando as histórias das canções com as execuções, o artista conseguiu encantar apenas 50% do público, os demais começaram, acintosamente, a deixar o recinto. Em dado momento, Guilherme percebeu que a platéia se esvaziava e disse: “Gente, as pessoas estão indo embora. Acho que não estou agradando. Desculpem-me se eu envelheci!”.
Ao ouvir isso, eu que já estava incomodada com a falta de educação de meus colegas congressistas, tive vontade de chorar. O sentimento deve ter sido geral, pois nós que ficáramos, reagimos aplaudindo-o carinhosamente.
Sei que o que acabo de dizer pode ofender as pessoas que o largaram no palco, e creio que se questionadas ouviremos argumentos do tipo: “Eu não me violento ouvindo o que eu não gosto!”, “Ele não me respeitou, porque tocou o que eu nunca ouvi, portanto eu não tenho de respeitá-lo”, “ Eu estava cansado(a)”...
Desculpe-me aí, meu leitor, se você concorda com justificativas desse tipo, mas eu vejo que elas revelam apenas o egoísmo de quem se sente MUUUUITO IMPORTANTE, a azeitona que enfeita a empada, a última bolacha do pacote...
Isso por si só já é ruim, imagine se vem de pessoas que sobrevivem “educando” pessoas. E nesse ponto, embora eu não seja doutora, considero importante expor o que penso sobre educação no sentido atitudinal: “ é a força que nos impede de atendermos os nossos desejos pessoais, porque vemos o outro (humano ou não) como um ser que merece respeito, polidez e cortesia.”
Com isso quero dizer que alguém educado tem autocontrole, coloca-se no lugar do outro e sabe conter os seus ímpetos. Então, é incapaz de conversar durante uma aula ou uma palestra, de sair acintosamente de lugar algum, de furar fila, de deixar de cumprimentar as pessoas, de se “fingir de morto para entrar no rabo dos vivos”, de se esquecer do que deve; enfim, não faz com ninguém aquilo que odiaria que fizessem consigo.
Nada pude falar para o Guilherme Arantes e ele nem sabe que eu existo, mas gostaria que ele soubesse o que eu perguntaria e declararia a cada pessoa que abandonou o seu show, se eu as conhecesse: “Você tem metade do talento dele? Sabe compor, tocar e cantar? Que tipo de educação você tem transmitido aos seus alunos? Eles também têm o direito de deixar a sua aula quando ela está chata ou você é o perfeitão? Tem certeza de que você merece o título de educador? Sinceramente? Shame on you!”
* SHAME ON YOU é uma expressão inglesa que significa: “Que vergonha”. A pronúncia é mais ou menos “Shêimoniú”