Apreciação (emocional)

Para a grande maioria tecer uma opinião é apenas aquilo que diz respeito às costureiras e tecelões. Tal fenômeno se consuma pelo grande estímulo das coisas ordinárias, dirigidas ao consumo rápido, alma da sociedade, o seu mercado e o seu crime. Na era da informação ninguém mais pretende confessar que “ignora”, todo mundo tem sentimento do mundo “consabido”, claro, sabido por muitos. Apreciar significa estar diante de algo que se pretende no mínimo “inovador” ou pelo menos produzido para causar um novo efeito. Se produzir novo efeito, logo era desconhecido... O que nos dias de hoje é enorme delito.

A educação primária está pouco ligando para a formação do espírito científico das pobres almas. Essas alminhas serão alimentadas apenas para mão-de-obra nesse espaço das oportunidades desiguais. Portanto “saber apreciar” é arte rara. Lira intrínseca.

Nunca imaginei que fosse difícil trocar experiência musical. A primeira reação diante de um poema musicado é colocar ao lado uma referência de canção computada pela memória do observador como já conhecida. A maior parte fica nisso: se parece com... É um ponto final fatal nessas almas acostumadas a vida de registros prontos. Nelas jamais permanece o inédito ou variação melhorada. Estranho sempre no alheio porque a maior parte dos “músicos amadores” são estereótipos da idolatria. Julgam-se mentalmente prontos e sequer toleram o adorável ensaio. Que deve ser sempre com pessoas muito legais. A música para eles não vem da técnica, mas sim de uma espécie de religião, um lugar anímico que deve ser fruto de ação súbita como um espasmo seguido de aplauso.

Todo músico novato deveria experimentar a criação de um corpo melódico para a nudez dos poemas libertados dos direitos autorais. Há nisto uma riqueza inesgotável que sequer é explorada pela grande mídia. Justamente o que mais aprecio. Com raras exceções sobram poucos amigos que se deixam levar pela audição dos primeiros fragmentos de um trabalho dessa natureza. Preciso é claro confessar que se trata de rudimento, de primeira arquitetura, para dar início aos trabalhos, tarefa paciente com gravação de bolso. A tecnologia para gravação caseira não está disponível com grande facilidade. Antigamente era “rec”, “fita” e pronto.

Tenho algumas canções de minha arquitetura sobre poemas musicais no Palco MP3 (aqui na web) para me vingar de uma cidade indiferente e cruel em seus valores culturais. Tenho meu canto para me vingar dessa cidade que antes cantava, mas que agora pratica cultura de aluguel nas legendas partidárias. Nesses dias de chuva bate aquela vontade louca de encontrar excelentes amigos musicais. Para colorir de verdade a alma cinza, sem grandes pretensões, exceto a de concluir um trabalho bem elaborado.

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