RODOPIOS

Eu trabalhava em frente à uma praça e foi o que vi:

E o homem dançava sozinho, rodopiando, arriscando passos

saltitantes no chão molhado da chuva recente. Camisa quase

verde, short preto, pés descalços, cabeça em porte solene

ensaiando novos passos. Senta, levanta, inventa um novo ritmo e

feliz, seguia a tênue linha que limita a razão da loucura, mas dançava

ao som de mil violinos tendo lembranças flutuantes como parceiras

de um passado frustrante . Mendigo de vida, mendigo de amores.

Sozinho, marginalizado socialmente, busca na dança embriagada,

uma esperança, ao acreditar que está em liberdade plena e feliz

com os dias vindouros;que sua triste alegria dançante vai comover

o mundo à sua volta. Triste realidade não assumida. Inconsciente

do submundo em que vive, dança. Os apressados transeuntes viram

a cabeça para vê-lo, só para rirem dele.

Na verdade ele não está só. Aguardam, aplaudindo-o, a dona

pobreza, a dona loucura e a Srta. esperança, excelente bailarina que

esperam cada uma sua vez a contradança, para pisar nos seus pés,

pisar em seu coração, amarrotarem seus sonhos!

Seu nome, que importa? Ninguém sabe, ninguém quer saber. Só

vêem mais um a bailar a dança macabra nos palcos do mundo.

FIM