MACHISMO

"A mulher é uma beldade.

Foi o machismo de deus,

Foi obra criada contra maldade!

A mulher é uma condenação voraz,

É berço de menino,

É a cruz de satanás"

(Henrique Diógenis)

Saí de casa como se fosse um dia qualquer. Acordei, lavei o rosto, tirei as remelas dos olhos, passei um café, comi um pão com queijo vencido, acendi um cigarro, escovei os dentes, tirei o carro e segui para o trabalho... no meio do caminho decidi não trabalhar e ir à praia contemplar a natureza. Beijei os bicho e enxuguei as lágrimas com as folhas das plantas.

Nisso tudo, o telefone tocava sem parar. Como eu sabia que era o filha da puta do meu chefe, nem atendia. Demita-me se quiser. Para quem sabe o que fazer, ser vagabundo é uma opção, pois emprego não falta.

Eu sabia que esse dia me reservaria algo. Acho que essa coisa de destino é mesmo verdade. Cansado da vida de solteiro, apartamento bagunçado e no quarto, acordar todos os dias com Ozzy Osbourne no pôster da parede olhando com aquela cara sádica para minha cara de babaca, já estava me tornando um ser carente e deprimido. Além de careta, bêbado, arrogante e responsável, sempre foi opção minha ser sozinho. Pois apesar de achar a coisa mais gostosa e escultural o corpo feminino, é a cabeça da mulher que me expulsa de tê-las todos os dias ao meu lado. Ciumenta, pegajosa, insegura, possessiva e cheia de frescuras que nem Deus entende.

Mas como disse, algo diferente haveria de acontecer. Até que paro no shopping para comer algo e do nada lá está ela escultural, gostosa, linda, meiga, calma e sem falar besteira alguma... não deu outra, corri, fui atrás dela e a busquei pra mim.

Hoje, fará vinte e cinco anos que estamos juntos. Viva nossas bodas de prata. Ela era tudo que eu queria: não é ciumenta nem possessiva; não tem frescura e topa tudo e todas as posições; nunca falou uma besteira sequer; me deixar jogar futebol com os amigos e beber nos piores bares sem reclamar nada, e ainda quando chego em casa, não reclama e tá prontinha pra mim; não liga pra luxo nem pra lixo; e o melhor de tudo, não fez questão alguma de casar na igreja e gastar milhares com Buffet e convidados...

... A mulher ideal: pois é!... Me custou R$ 29,99. Uma baita de boneca inflável com seios firmes, bumbum durinho, cabelos negros, lisos e arrumados sem nunca ter ido ao salão, cega, surda e muda... a mulher mais fácil de me aturar!

O ap. continua sujo e bagunçado, a praia tá no mesmo lugar, assim como os bichos e as plantas... sem falar ainda que o cigarro e a bebida estão lá na escrivaninha em baixo do pôster do Ozzy, hoje já rasgado. Portanto, tchau! Vou agora meter um tango na vitrola e dançar com o meu amor!