O Poeta das Tardes Vermelhas.

Possuem uma relação de escrúpulos pelo fato de possuírem algum parentesco. No caso, é namorado da sobrinha, filha da irmã que mais parece satã.

Todos os anos nessa época do mês barracas saem voando aos ares, feito aeroplanos, levadas por avermelhados ventos da terra do altiplano.

As testas, as roupas, os crânios e as almas dos cidadãos presenciam o acontecimento manchando-se de marrom. O mundo fica marrom. Aos maus-cidadãos, aos maus-elementos, aos corruptos e aos vadios de plantão é uma farta alegria se esconderem por detrás da cortina de poeira que beira a véspera eleitoreira.

Uma bandalheira de seres vis irrompem dos submundos imundos dos esgotos, utilizando-se de engodos no intento de auferir alguma vantagem dos míseros cidadãos civis dessas terras de confins.

Onde já se viu - indigna-se a senhora que aguarda o horário da novela, vendo o político na T.V. - onde já se viu um canalha como esse dar as caras pedindo votos depois de ser eleito o corrupto do ano passado!

O universo cotidiano não foge da anormalidade. Muitos gostam de beber além da conta em época de campanha política, pois tudo “é de grátis”.

O céu avermelhado dá uma sensação de desânimo e desgosto na alma do poeta das plagas sujas.

Manquitolando, percorre as ladeiras do sem-fim desapontado com a pontada que lhe dá no peito a sensação de impotência que sua questão abstrata causa aos demais condiscípulos. É um ilusório, e vive só, acompanhado apenas pela cadela que se cio e da pasta velha que por mais velha que seja nunca lhe deixou a cabeça seca dormir sem aconchego, recostada na sarjeta. No mínimo um bom travesseiro...

É o poeta do caos, ansioso pelo dia em que as criancinhas do milésimo gol do Pelé de fato não mais sentirão fome.

Lá vai o poeta dos dias vindouros..., vão, vago, sôfrego na desilusão sua de cada hora, de hoje e de outrora, que sonha, sofre e morre no limiar da aurora do dia que ainda não veio...

Lá vai o poeta do mar a cantarolar seu soneto na ladeira baixa de suas composições. Amar, sofrer, cantar, uivar nas madrugadas a fio, mesmo que o frio invernal torne sua vida infernal.

Que não o levem a mal, é apenas mais um poeta desses que a fome e a descompostura fez com que rezasse a Deus implorando que a lua nunca se vá, pois lembra que o sol fez com que seu velho pai empunhasse a pá diária de ódio e morresse numa vala comum de desgraça para que pusesse na mesa de sua casa um pouco de pasta de maisena a satisfazer a fome de uma centena de crianças esmagadas pelas engrenagens do executor pátrio, o alienador de massas...

É a fome de ontem que mata o homem!

Cristiano Covas, 28.09.06.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 01/09/2010
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