A VIDA POR UM FIO

Pois é... Nesses tempos em que casamentos são realizados pela internet e casar por procuração tornou-se tão obsoleto que no dizer dos juristas virou “letra morta”, temos mesmo que criar novos meios, nos dar novas oportunidades, ainda que nada seja tão novo assim...

Enquanto estive fora, o PIN do meu “indispensável” celular foi bloqueado por uma alma bondosa. Muitos pensariam: “Que drama!”. Tenho agora que encontrar um tal cartão, digitar uma série infinita de números, fazer umas três acrobacias, pra, no fim, perceber que a tal coisinha apenas desassossega e me rouba um tanto de vida...

Já estava quase sentindo saudades do “tijorola” quando, considerando bem, percebi que o “problema” desencadeou efeitos muito mais positivos do que a própria Anatel suporia...

Desde então, não ouço mais aquelas perguntas idiotas, do tipo "onde você está?", quando telefonam pro meu fixo (agora eles “têm certeza” de que estou em casa...rs); não me chateio mais se alguém faz aquela “p...” festa e, no dia seguinte, com a voz ainda “embriagada” diz “eu ia te ligar...”. Afinal, ninguém conseguiria mesmo.

Deixei de me aborrecer com aquela musiquinha irritante, seguida das impessoalíssimas gravações das secretárias eletrônicas (como eu gostava de quando todas eram de carne e osso e a do meu pai me levava pra passear...).

E as novas “velhas” oportunidades? Se meu carro quebra, sento-me calmamente na beira da estrada e, se fumasse, poderia até acender um cigarro enquanto brinco de adivinhar que cara terá o mais novo “velho amigo” com quem trocarei confidências até a casa.

Há tempos o termo “fora de área” não tinha pra mim um sentido tão exato como o de agora: um amigo curtindo “toooodas” numa viagem (ou fazendo sei lá o que, não sei onde, com sei lá quem);

Hoje vou à porta das pessoas pra saber se “o fulano está?” e sinto um prazer quase nostálgico ao ter que conferir se não estaria ele “batendo cartão na escadinha do Bandas” ou, nos dias atuais, tomando uma cerveja láaaaaaaa no Silvinho. Hoje, sinto o sabor indescritível de encontrar aquela “certa” pessoa e, com o coração aos pulos, dizer: “Nossa!!! Que bom te ver! Não sabe o quanto quis falar com você!”. Porque, decerto, essa pessoa não sabe mesmo... Talvez até desviasse minhas chamadas! E por que desviar chamadas, quando o melhor ainda é desviar atenção, desviar olhares, desviar do caminho, desviar os “zíperes” e ter os pensamentos definitivamente transviados... ?

Pensando bem, melhor mesmo é não encontrar "PUK que pariu" nenhum!!!