VIOLÊNCIA NA PRAÇA DAS BANDEIRAS EM SÃO PAULO

Este fato aconteceu na época em que a Praça da Bandeira,início dos anos oitenta, embora fosse um terminal de ônibus, ainda não havia esta estrutura atual bem edificada com todas as facilidades propiciadas para os usuários das várias linhas e itinerários.

Existiam nas calçadas que, na verdade, serviam de plataformas, onde nas proximidades de cada ponto, barracas de variedades de mercadorias como: laranjas, mexericas, goiabas, chocolates, chicletes, balinhas e, carregando os ares de fumaças cheirando à gordura de carne de segunda, os churrasqueiros assavam os espetinhos e vendiam para todos dali dos pontos que ficavam aguardando os seus respectivos ônibus.A pimenta a farinha e a pinga além dos espetinhos de carne, não sabia de onde era procedência ,formavam os ingredientes para um bom tira gosto enquanto se jogava conversa fora, até a chegada do ônibus.

Foi em uma dessas conversas jogadas fora que observamos uma viatura da Polícia Militar ser estacionada na calçada do lado das grades que protegiam o prédio da Eletropaulo e de dentro dela saírem dois policiais com um trombadão. O meliante estava algemado, sem camisa e sem qualquer tipo de calçados, apenas vestido com uma calça de cor escura e bastante surrada.

Enquanto a viatura era conduzida para um local mais estratégico para estacionar com mais segurança, os dois policiais deram um festival de chutes e soco no prisioneiro e quando se deram por satisfeitos, retornaram para a viatura e, os que permaneceram na mesma desceram, vieram e repetiram o ritual de brutalidades.

O que parecia mais espantoso neste enredo de selvageria era que, todas as viaturas que passavam pelo local, paravam para que os seus ocupantes policiais saciassem os seus instintos selvagens.

O mesmo acontecia com os policiais que passavam andando pelo local da tortura, ao vivo e em cores. Abismado, questionei às pessoas companheiras de ônibus e vizinhos de bairros, se elas achavam esta tortura correta. O pior é que todo o terminal Bandeira, lotado de centenas de pessoas que eram apenas espectadores e, os policiais, protagonistas das cenas,não estavam nem ai para a hora da missa. A maioria dizia: Safados como esse têm é que apanharem mesmo! O estado de justiça com as próprias mãos, incrustados no âmago das pessoas e, a indiferença delas, diante de um ato tão arbitrário de membros da corporação da Polícia Militar, tirava-me cada vez mais a confiança nela. Se eles fazem isso em plena Praça da Bandeira lotada, quase à luz do dia e da noite, o que não fariam na calada da noite e nas quebradas de São Paulo e Grande São Paulo!

Eu não entendia como o trombadão conseguia ficar de pé. Algumas vezes caia, mas, tornava-se de pé, cambaleante e resistente. Finalmente o ônibus da linha 6466, Jardim Comercial, região do Capão Redondo, estacionou no ponto, entramos e rumamos para o Bairro, e eu não mais soube qual foi o final daquela tortura e do torturado, em plena praça pública.

Esse fato aconteceu no início dos anos oitenta. O Governador do Estado de São Paulo era o Paulo Salim Maluf. O secretário da segurança pública era o então temido Coronel Erasmo Dias. ” Dois homens santos”, principais responsáveis pela invasão da PUC,Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, nos anos setenta, onde a polícia barbarizou medievalmente todas as pessoas, tanto de dentro da PUC quanto as que passavam por lá coincidentemente, sem ter nada a ver com o fato. Grávidas perderam bebês, e ainda até hoje existem pessoas traumatizadas com tudo o que aconteceu. Tive o prazer de estudar com mestres que laboravam na PUC à época e alguns que estudavam também.

- Pergunto: Será que pessoas como as da Praça da Bandeira, região central da cidade, são as mesmas que reclamam da atual violência policial em São Paulo e, ou foram vítimas dela? Existem na corporação bandidos de fardas ,ou não? Os fatos atuais falam por si e a análise é sua.

Eu hoje confio na Instituição Poliícia Militar,cuja maioria dos componentes são soldados sérios e honestos,que laboram com heroismo e altivez, apesar das condições difíceis nos dias de hoje com a crescente rede do crime organizado, cada vez mais forte e equipado,logísticamente mas, há também a necessidade de combatermos os excessos como os cometidos na PUC nos anos setenta, Praça da Bandeira e Carandiru nos anos oitenta,Carajás, Candelária e outros tantos,anônimos! Precisamos de política mais realista e correta e, para que isso aconteça, precisamos escolher melhor os nossos governantes e legisladores; e já podemos iniciar agora nas próximas eleições que estão chegando!

É o que há.

Aristórbio