Café de Hotel em São Paulo
Eu odeio viajar a serviço para São Paulo. Se existisse um odiômetro capaz de medir, numa escala de zero a dez, o quanto eu odeio viajar a serviço para São Paulo, ele marcaria nove. Pensou que eu diria dez? Dez ele só marcaria para indicar o quanto meu chefe me odeia pois sempre me manda pra lá.
Os hotéis conveniados são bons. A localização é que atrapalha: ficam todos em São Paulo.
É sério! Um deles fica ao lado da Cracolândia! Impossível andar por ali sem escolta armada! Então fico no esquema hotel-trabalho, trabalho-hotel. Inevitável lembrar d’O Iluminado do Stephen King: “Muito trabalho, sem diversão fazem de Jack um bobão!”
Começo a me sentir estranha, de repente não sou mais eu. Quem dera me tornasse uma louca assassina como o Jack, mas fico mesmo é parecida com a Dercy Gonçalves. E não estou falando das rugas e tal... Estas são minhas mesmo. Estou falando do humor ácido dela.
E meu humor fica ainda mais azedo no restaurante do hotel, no café da manhã.
Chego de manhã cedo, torta de sono e me escondo numa mesa do canto, para não ter que falar com ninguém. Pois nem bem eu me arrasto até lá, aparece uma colega cheia de energia e disposição e diz, em tom de Show da Xuxa: Booum diiiaaa!
Pergunto com voz de coveiro: “bom dia, por quê?”. Ela ri, não sei do quê e senta comigo. Diz que eu devia experimentar a academia do hotel. Pergunto que tipo de drinks eles servem lá. Ela não entende a piada e me ex-pli-ca o que é uma academia!!
O instinto homicida de Jack começa a se apoderar de mim. Sorte a dela que eu não faço academia, porque a distinta resolve adiantar o assunto da reunião de mais tarde. E eu nem posso cobrar hora extra por isso!!
Levanto com a desculpa de pegar umas frutas. A variedade é impressionante: mamão, banana e melancia. Cadê a diversidade tropical? Cadê Pero Vaz para provar que “em se plantando, tudo dá”? Cadê um garçom para eu reclamar?
Não tem nada diet no buffet. Só “engordiet”! Pães, pastas, manteiga com ou sem sal, mas nenhuma sem manteiga. A nutricionista do hotel fez o mesmo curso que a minha?
E por falar no quanto eu preciso emagrecer, aproveito para olhar o gordinho se servindo ao meu lado. Ele come feito um passarinho. Um passarinho... Como era o nome, mesmo? Ah! Pterodáctilo!
Bonito, o pratinho dele, honrado... Sabe aqueles assim, meio convexos? O dele era convexo e meio!
Pego uma fatia de mamão e dois pãezinhos. Ao me virar, vejo pelo salão outros colegas da empresa. Passo cumprimentando todo mundo, inclusive uma família de alemães. Sou péssima fisionomista... melhor não arriscar. Vai que o bebezinho é estagiário?
Um sujeito devolve meu cumprimento e aponta uma cadeira para eu sentar. Achou que era cantada!!?? Velho, barrigudo e careca! Não se enxerga, não??
Fecho a cara e volto para a mesa onde minha colega continua falando de trabalho. Será que ainda dá tempo de eu ir sentar lá com o velhinho, fofo e reluzente?
Quer saber? Preciso de um café! Forte!! Na veia!! Já!!! O bule vazio, faço sinal para o garçom trocar. Ele vem com mais cara de sono que eu. Pergunto se o vôo dele também atrasou três horas ontem. Ele responde que não. Foi o metrô mesmo. E foram quatro horas. Ofereço-lhe o meu café. Ele recusa, educadinho.
Logo entendo porquê. É um perfeito 3F: frio, fraco, fedorento e com tanto açúcar que eu me sufoco.
Minha colega vai embora, cheia de nojinho, só porque tossi sobre a mesa!! Que vergonha... Se eu soubesse que era tão fácil me livrar dela tinha me engasgado antes.
Quando vou atacar meu pratinho, aparece lá na porta o mensageiro do hotel, me chamando pelo nome: “a viatura veio buscá-la!” Ai, meu Deus! Tô indo presa?!! Não tenho nada com isso!! Eu só trabalho lá!!
“É a van da empresa, dona!” Aaaah! Por que não disse logo?
Engulo um pãozinho, enrolo outro num guardanapo e enfio na bolsa. Mais tarde, vou me arrepender disso, com o teclado do celular cheio de patê de presunto.
O cara da cantada continua sorrindo para mim, quando passo por ele apressada e meio emburrada! Sujeitinho desaforado!
Só mais tarde, cai a ficha. Já nos encontramos antes, na reunião anterior, há pouco mais de dois meses. É para encontrar com ele que estou aqui! Ele é o dono da firma cliente.
Nessas horas o odiômetro marcaria onze. Fácil, fácil!
Eu odeio viajar a serviço para São Paulo. Se existisse um odiômetro capaz de medir, numa escala de zero a dez, o quanto eu odeio viajar a serviço para São Paulo, ele marcaria nove. Pensou que eu diria dez? Dez ele só marcaria para indicar o quanto meu chefe me odeia pois sempre me manda pra lá.
Os hotéis conveniados são bons. A localização é que atrapalha: ficam todos em São Paulo.
É sério! Um deles fica ao lado da Cracolândia! Impossível andar por ali sem escolta armada! Então fico no esquema hotel-trabalho, trabalho-hotel. Inevitável lembrar d’O Iluminado do Stephen King: “Muito trabalho, sem diversão fazem de Jack um bobão!”
Começo a me sentir estranha, de repente não sou mais eu. Quem dera me tornasse uma louca assassina como o Jack, mas fico mesmo é parecida com a Dercy Gonçalves. E não estou falando das rugas e tal... Estas são minhas mesmo. Estou falando do humor ácido dela.
E meu humor fica ainda mais azedo no restaurante do hotel, no café da manhã.
Chego de manhã cedo, torta de sono e me escondo numa mesa do canto, para não ter que falar com ninguém. Pois nem bem eu me arrasto até lá, aparece uma colega cheia de energia e disposição e diz, em tom de Show da Xuxa: Booum diiiaaa!
Pergunto com voz de coveiro: “bom dia, por quê?”. Ela ri, não sei do quê e senta comigo. Diz que eu devia experimentar a academia do hotel. Pergunto que tipo de drinks eles servem lá. Ela não entende a piada e me ex-pli-ca o que é uma academia!!
O instinto homicida de Jack começa a se apoderar de mim. Sorte a dela que eu não faço academia, porque a distinta resolve adiantar o assunto da reunião de mais tarde. E eu nem posso cobrar hora extra por isso!!
Levanto com a desculpa de pegar umas frutas. A variedade é impressionante: mamão, banana e melancia. Cadê a diversidade tropical? Cadê Pero Vaz para provar que “em se plantando, tudo dá”? Cadê um garçom para eu reclamar?
Não tem nada diet no buffet. Só “engordiet”! Pães, pastas, manteiga com ou sem sal, mas nenhuma sem manteiga. A nutricionista do hotel fez o mesmo curso que a minha?
E por falar no quanto eu preciso emagrecer, aproveito para olhar o gordinho se servindo ao meu lado. Ele come feito um passarinho. Um passarinho... Como era o nome, mesmo? Ah! Pterodáctilo!
Bonito, o pratinho dele, honrado... Sabe aqueles assim, meio convexos? O dele era convexo e meio!
Pego uma fatia de mamão e dois pãezinhos. Ao me virar, vejo pelo salão outros colegas da empresa. Passo cumprimentando todo mundo, inclusive uma família de alemães. Sou péssima fisionomista... melhor não arriscar. Vai que o bebezinho é estagiário?
Um sujeito devolve meu cumprimento e aponta uma cadeira para eu sentar. Achou que era cantada!!?? Velho, barrigudo e careca! Não se enxerga, não??
Fecho a cara e volto para a mesa onde minha colega continua falando de trabalho. Será que ainda dá tempo de eu ir sentar lá com o velhinho, fofo e reluzente?
Quer saber? Preciso de um café! Forte!! Na veia!! Já!!! O bule vazio, faço sinal para o garçom trocar. Ele vem com mais cara de sono que eu. Pergunto se o vôo dele também atrasou três horas ontem. Ele responde que não. Foi o metrô mesmo. E foram quatro horas. Ofereço-lhe o meu café. Ele recusa, educadinho.
Logo entendo porquê. É um perfeito 3F: frio, fraco, fedorento e com tanto açúcar que eu me sufoco.
Minha colega vai embora, cheia de nojinho, só porque tossi sobre a mesa!! Que vergonha... Se eu soubesse que era tão fácil me livrar dela tinha me engasgado antes.
Quando vou atacar meu pratinho, aparece lá na porta o mensageiro do hotel, me chamando pelo nome: “a viatura veio buscá-la!” Ai, meu Deus! Tô indo presa?!! Não tenho nada com isso!! Eu só trabalho lá!!
“É a van da empresa, dona!” Aaaah! Por que não disse logo?
Engulo um pãozinho, enrolo outro num guardanapo e enfio na bolsa. Mais tarde, vou me arrepender disso, com o teclado do celular cheio de patê de presunto.
O cara da cantada continua sorrindo para mim, quando passo por ele apressada e meio emburrada! Sujeitinho desaforado!
Só mais tarde, cai a ficha. Já nos encontramos antes, na reunião anterior, há pouco mais de dois meses. É para encontrar com ele que estou aqui! Ele é o dono da firma cliente.
Nessas horas o odiômetro marcaria onze. Fácil, fácil!