O PASTORIL
O PASTORIL
Chagaspires
Como comemoração das festas de final de ano em meados dos anos cinqüenta no Nordeste Brasileiro, o pastoril reverenciava o nascimento do menino Jesus.
Cantava à história do nascimento de Cristo, a visita dos reis magos, à matança das criancinhas a mando de Herodes, rei da Judéia, a luta entre o bem e o mau, e como desfecho final a queima da Lapinha (presépio de Natal).
Com uma forte tendência religiosa católica-romana, o pastoril deslumbrava.
A rivalidade tomava conta do público assistente que torciam pelos cordões de pastorinhas nas cores azul e encarnado, e muitas vezes diziam ofensas uns aos outros inventando improvisos tais como:
-“Sai daí papangu que a vitória é do azul”.
-“Sai daí pinto pelado que a vitória é do encarnado”.
Toda escola que se prezava preparava um belo pastoril, e sendo a nossa administrada por padres e freiras o pastoril não podia faltar.
O Auto de Natal narrava à história das pastoras a caminho de Belém.
Com suas cançonetas e jornadas nas noites de Natal ano bom e Reis, logo após a missa do galo, ou após os foguetes de passagem do ano, nas festas de rua, o pastoril, alegrava a moçada.
Dividido em dois cordões: azul e encarnado, também chamados de partidos, o drama cantado era conduzido pela Mestra do cordão encarnado e pela Contramestra do cordão azul e as canções seguiam-se de acordo com o planejado.
“Meu são José daí-nos licença”
“Para o pastoril dançar”.
Viemos para adorar.
“Jesus nasceu para nos salvar”.
“ Eu sou a mestra do cordão encarnado.”
“O meu cordão eu sei dominar”.
“Eu peço palmas peço riso e flores”.
“Aos partidários peço proteção”.
“Sou contramestra do cordão azul”.
“O meu partido eu sei dominar”.
“Com minhas danças minhas cantorias”.
“Senhores todos queiram desculpar”.
Faziam também parte desta dramatização o Pastor que era o homem cerra fila (Quando o Auto passou a ser profano o pastor ficou sendo conhecido como o velho do pastoril), a Diana que vestia uma roupa metade azul e metade vermelha; o anjo bom ( Arcanjo Gabriel), que representava DEUS e o anjo mau que representava Luzbel ou demónio, a borboleta e a cigana, e dependendo da região, eram introduzidos novos personagens.
“Pastor vamos adorar, a, a”.
“Vamos adorar Jesus redentor ô, ô, ô, ô”.
“Sou a Diana não tenho partido”.
“O meu partido são os dois cordões”.
“Eu peço palma peço riso e flores”.
“Aos meus senhores peço proteção”.
“Borboleta pequenina venha para o rosal”.
“Venha cantar belos hinos que hoje é noite de Natal”.
A cena de palco era sempre o presépio onde em frente dele as pastorinhas se apresentavam.
Eram vendidos votos ( senhas nas cores azuis e vermelhas, devidamente assinadas e carimbadas) que eram adquiridos pelo público assistente a um preço estipulado e investido em uma pastora de um dos cordões, (a primeira, a segunda ou a terceira pastorinha), que dançava ao som de uma orquestra mediante a quantidade de votos).
No final da noite os votos eram somados e então se tinha o cordão vencedor.
O ciclo natalino começava no dia 24 de dezembro e ia ate o dia de Reis 6 de janeiro, onde havia a queima da Lapinha.
Trazido pelos colonizadores o pastoril comove e encanta a jovens e adultos até os dias atuais.
Deriva segundo historiadores da palavra ”Pastor”, fazendo a alusão a Jesus Cristo em sua missão de pastorear a igreja e difundir o evangelho a toda criatura.
Vestindo saias curtas, rodadas e coloridas, diademas enfeitados com fitas nas cores: azul e vermelho. Traziam nas mãos pequenos pandeiros ou maracás que agitavam ao dançar.
Com movimentos faceiros e graciosos as pastorinhas encantavam a todos os presentes com a ingenuidade peculiar da infância e adolescência.
Havia um animador que incitava a platéia causando euforia nos torcedores.
A cigana do Egito lia a mão dos participantes e angariava pequenos óbolos.
Eram leiloados objetos e ramos de flores, e todo dinheiro adquirido servia para as obras de caridade da paróquia.
No dia 6 de janeiro era a última apresentação do pastoril. O encerramento coroava com a queima da lapinha.
As pastorinhas se despediam contando:
“A nossa lapinha já vai se queimar”.
“Em brasas de fogo já vai se tornar”.
“Adeus meus senhores, já vamos partir”.
“O dia amanhece, queremos dormir”.
O folclore Nordestino, ao longo do caminho, foi diminuindo e tende a perecer.
Hoje grupos de dançarinos ainda se oculpam das tradições brasileiras, não deixando desaparecer folguedos populares como o pastoril.
Embora com uma versão bem diferente, o pastoril saiu do amadorismo passando para o profissionalismo, onde tem sido representado de uma maneira bem estilizada, e com uma figura diferente além das pastoras; é o “velho.
Com ares de palhaço e de vilão ele profere piadas apimentadas e dança com as pastoras de modo sensual e profano causando na platéia um frenesi diferente.
Contando com apelidos tais como: Xaveco, Mangaba, Faceta, Mendegueba, Catota, Cebola, Velho Barroso, Futrica e outros, verdadeiros artistas mambembes, se apresentam em teatros e casas noturnas de espetáculos do nosso Nordeste.
O velho e seu pastoril têm sustentado pelo tempo a fora esta dança tão importante da nossa cultura.
Ainda se pode encontrar em sua forma primitiva embora bastante descaracterizado em algumas cidades e arrabaldes do grande Recife o antigo pastoril, onde a ingenuidade das pastoras é encenada por meninas e moças de família, em colégios da região, em teatrinhos e festas de rua.
Guardamos uma saudade antiga dos pastoris de outrora, onde o encantamento das noites natalinas ainda se fazia presente nos corações ingênuos e puros da nossa infância.