COMISERAÇÃO

Tenho pena deste mundo onde só vejo lobo a devorar lobo.

Tenho pena de quem desiste da realidade da vida para viver a ilusão no mundo das drogas.

Tenho pena de quem não tem fé em nada. Nem em Deus, nem na vida ou em si mesmo.

Tenho pena de quem é escravo das futilidades das modas, dos consumismos enchendo o exterior de supérfluos enquanto anula e esvazia o essencial conteúdo interior.

Tenho pena de quem desiste do grande amor e se conforma com o destino do mais ou menos feliz na vida.

Tenho pena de quem se aliena enlameando as mãos, a cara e todo corpo para obter vantagens efêmeras e corrompidas.

Tenho pena de quem tem chance de melhorar o país e desperdiça a oportunidade com ambições particulares egoístas.

Tenho pena de quem gasta seu precioso tempo ofendendo, atacando religião, seita, opção sexual, raça, cor pelo inútil e simples prazer de exercitar a crueza pobre de espírito.

Tenho pena de quem passa mais tempo proferindo palavras ardis sobre a vida ou crença alheia ao invés de propagar o amor que muito desejamos e pouco percebemos no mundo.

E tenho pena também de mim em acreditar que amanhã poderá ser ainda mai belo do que hoje. Que seremos irmãos sem fronteiras respeitando os limites e as escolhas do outro com singular concordância. Onde a justiça será realidade respeitada e idealizada pela política do país e não a lástima miserável que somos obrigados a entalar na garganta, por ser tão ruim que não desce!

Sim, tenho pena de mim por me manter alegre, otimista mesmo quando as notícias frescas de cada dia dizem “não espere por dias melhores, nada de novo e belo amanhã, mulher”.

Tenho pena de mim por acreditar e lutar por dias sim melhores poderão vir. Tenho pena de mim por fazer orações por quem não acredita no poder da fé ou por quem não mereça tais bênçãos.

Em suma, tenho pena de mim porque a vida toda serei assim do jeitinho que tenho sido – eterna ingênua otimista a crer em possíveis finais felizes sim!