Eu queria ter vidas paralelas.
Gostaria viver em duas dimensões ao mesmo tempo. Habitar a vida que tenho e ter a outra, aquela que sonhei e não realizei. Penso que sou feliz com minha profissão e meus filhos,mas falta a realização profissional que idealizei. Estes pensamentos surgiram ao ver, por caso, na internet, o nome de uma grande amiga que se distanciou de mim em função de termos seguido caminhos pessoais diferentes. Minha amiga de adolescência e juventude, se tornou uma doutora em História, é coordenadora de departamento de uma conceituada universidade. Possui um vasto currículo de publicações cientificas, seminários, congressos. Não sei dados da sua vida pessoal, se casou ou teve filhos. Mas, fiquei estática, a minha amiga alegre, festeira cheio de vida, sol e sempre dividida entre o amor e os estudos realizou seus sonhos profissionais da forma que planejou.
Fiquei pensando em qual da esquinas dobrei errado e me perdi no caminho, pois não cheguei a realizar plenamente a minha vida profissional. Talvez, eu não tenha dobrado errado. Simplesmente, tenha escolhido ter uma família e criar bem meus filhos. Sempre adorei ficar com meus filhos, nunca foi uma obrigação cuidá-los, vivo todos os instantes de suas vidas com amor e intensidade. Mas, ficou um travo amargo, não de fracasso ou desespero, simplesmente uma sensação de que uma parte da minha vida é incompleta. Enquanto, eles iam crescendo, trabalhava, mas nunca conseguia me dedicar o suficiente, entre uma doença e outra deles acabava perdendo um sonho profissional. Fiquei por um longo tempo somente como professora estadual, consegui com muito custo e noites mal dormidas fazer mestrado. Não obtive grau máximo na defesa, nem garanti convites para dar aulas em universidades ou fazer um doutorado. Na época, não me preocupou estes detalhes.
Porém, atualmente, acho que deveria ter vivido em vidas paralelas, uma para me dedicar aos meus filhos e outra para conseguir realizar meus desejos profissionais. Passei minha vida trabalhando com crianças, adolescentes, sempre vi a solidão em que viviam longe dos pais. Eram criados por avós, tios ou empregados e conseguiam ver os pais somente nos fins de semana. Isso lhes causava um dano irreparável. Talvez por isto, eu trilhei um caminho inverso ficar ao lado dos meus filhos mesmo que custasse uma vida profissional de sucesso e mais dinheiro. Não há arrependimento nas minhas escolhas, sim a incompletude que invade em alguns momentos a minha vida. É claro ainda posso fazer um doutorado e batalhar pelas aulas em faculdades, mas, às vezes, o tempo faz certo desgaste nas pessoas. Tenho uma amiga que diz assim: há vida pós-maternidade. Acredito que agora é meu instante de mudanças profissionais.
Isa Piedras
31/08/2010