OS VERSOS DOS OPRIMIDOS
O TOQUE DE RECOLHER E OS VERSOS DOS OPRIMIDOS
Quinha olhava a rua por uma Creta de uns quatro centímetros sob o portão de ferro maciço,
depois que se aposentou ou o aposentaram pois na verdade não queria, comprou uma cadeira de balanço
e ali ficava horas a fio no seu balançar de saudades do tempo que trabalhava na central.
Gostava de contar suas aventuras pelos trilhos da vida enquanto seus filhos eram pequenos
agora todos cresceram o que fazer, mas Quinha conhecia todos os vizinhos pelos pés, como todos os vizinhos
conheciam os outros pelos pés por sob a Creta de seus portões, e assim passavam o dia;
--oh dona Chica.
--Oh Gege.
---oh dona Zica.
--Oh seu Keke.
É que após as quatro da tarde ninguém se atrevia sair
é que ali naquela vila chamada Brazilinha há anos tinha o toque de recolher;
---Éh Tião hoje a coisa pode esquentar
---Éh Quinha amanhã também...
---Oh Leonardo
---oh seu Tonim.
---oh seu Amado,
---oh Orlandim.
você vai me perguntar;
"mas nesta vila a maioria são homens?
Eu te respondo. É que a maioria delas morrem vitimas de beijos perdidos ou balas perdidas.
E assim seguia o canto dos versos dos oprimidos.
O relógio dizk que estak
na parede,
Dizk que estak aqui
Na parede o relógio
Dizk que estak aqui
Pendurado na parede
Dizkqueestakaqui...