CRÔNICA – Golpes sujos



 


1 – Na câmara dos deputados:

            Notícias chegadas da Terra de Santa Cruz, país que há muitos anos é chamado de “em desenvolvimento”, que nunca chega, dão conta de que a câmara dos deputados (o regime lá e unicameral) estaria pagando, mesmo no recesso parlamentar, nada mais nada menos do que quase quatro milhões de cruzes a título de horas extras ao seu quadro de pessoal, referentes ao mês de julho do ano em curso. A moeda naquele país, depois das reformas acontecidas na década passada, passou a ser denominada cruz, cuja sigla é Cz$. A pobreza já se acostumou e adora viver presa ao seu próprio madeiro...

            Ora, que se paguem as horas realmente trabalhadas é uma obrigação do patrão, todavia como se justificar essa prorrogação de expediente demasiada, quando se sabe que a câmara está de recesso, em face das propagandas políticas para as eleições que se avizinham naquela nação amiga. Faz alguns meses que não se vota coisa alguma no centro das decisões. Na verdade, até que tudo funcionou melhor com o afastamento dos políticos para campanhas nas suas bases.

            O povão nem quer saber dessas safadezas. Aliás, essas notícias não chegam aos pobres da periferia, mas mesmo que delas tomassem conhecimento em nada afetariam suas preferências eleitorais, pois já escolheram em quem votar e seus nomes e/ou números já foram gravados na cachola. O lema lá, lá, lá é aquele: “Ele rouba, mas trabalha, dá dinheiro aos pobres”. Realmente, há uma compra de sufrágios apelidada de “bolsa eleições”, que até vem sendo copiada por outros países. Não sabe a população que aquela dádiva custa cara aos bolsos dos habitantes, quer paguem ou não impostos.

            Conversando com um historiador, homem de bem, que nunca fez farra com o dinheiro público, dissera que quando trabalhara para o governo, na época em que não havia muita gente séria, só recebia, no máximo, o equivalente a vinte horas extraordinárias por mês, embora pudesse haver trabalhado muito mais. O administrador, homem duro e zeloso pelo dinheiro do erário (?) havia estipulado esse teto, e pronto... Manda quem pode e obedece quem tem juízo ou não quer perder o emprego eram as palavras de ordem. Bem, mas aí já é furto!

            Contam que um funcionário de boa cepa, num certo mês, teve o seu pagamento reduzido para apenas dezoito horas, isso porque não pôde comparecer a uma jornada de duas horas.  Não votava na situação. Todo mundo era testemunha e até as folhas do ponto registravam que havia prestado trinta e oito horas... Era costume trabalhar além da conta; em início de carreira queria marcar pontos com os chefes. O pior é que a sua produção era o dobro da dos seus colegas de emprego. Todavia, criou coragem e a partir do mês seguinte não mais compareceu fora do horário, o suficiente para que a chefia o procurasse para negociar o pagamento das horas restantes, pois a sua ausência estava causando dificuldades na atualização da demanda dos serviços.

            Não se deve aceitar simplesmente, mas lutar pelos seus direitos, dizia ele. O que se sabe é que alguns apaniguados nem fazia horas extras, todavia no contracheque aparecia o pagamento do dobro das tabeladas.

2 – Na Polícia:

            Uma estudante de direito, curso dos mais bem frequentados em Santa Cruz, em face da alta criminalidade, que é uma das maiores do mundo, teria sido presa pela prática de um delito sem maiores consequências, mas a prisão poderia ser relaxada, pois vigora o regime de se responder solto a qualquer processo.

            Pois bem, tendo ela certa idade, quer dizer não era mais tão novinha, gravara a “cantada” que um policial lhe fizera no sentido de trocar o afamado “sexo oral” pelo arquivamento do processo, no que teria rejeitado. Se o fez não foi noticiado, mas a verdade é que entregara a fita gravada ao comandante geral da milícia. O funcionário poderá até perder a função, eis que o rigor e a disciplina (?) são o toque de mágica reinante no país continente de Terra de Santa Cruz. Ser preso estaria fora de cogitações! Também, de nada adiantaria, eis que é a polícia prendendo e a justiça (?) soltando!

3 – Campanhas eleitorais:

            Tantas são as mentiras, em todos os níveis, que cada candidato não suportaria um detector ao seu lado. Prometem como sem falta e faltam como sem dúvida! Verdadeiros assaltos do dinheiro do povo esses políticos praticam com a ajuda oficial do governo, que seria o primeiro da fila. É preciso explicar aos habitantes que os recursos ofertados por industriais e banqueiros, por exemplo, para movimentar as campanhas, voltam na primeira oportunidade com o aumento dos preços dos produtos e serviços, e aí paga-se dobrado.

            Falando apenas dos que pleiteiam a presidência, que atualmente é ocupada por um dirigente do Partido das Transgressões, e que quer se manter no poder por cinquenta anos, o povo de Santa Cruz anda perplexo com a falta de programa dos quatro candidatos que andam na frente das pesquisas, que são feitas por amigos íntimos do poder. Todos falam no trinômio: “Saúde, educação e segurança”, taxando-os de prioritários: “Olha, quando eu assumir o governo o meu primeiro ato será elevar os salários do pessoal da polícia, que está ganhando pessimamente e não pode oferecer trabalho de qualidade”. E assim por diante...      

            Na realidade, o que estariam fazendo é nada mais nada menos do que captar a simpatia do pessoal da segurança e galgar seus votos em todo o país. Em sendo verdadeira essa promessa, pergunta-se: Por que o candidato do governo e seus aliados já não fazem isso antes das eleições? Ora, se reconhecem que os policiais estão mal pagos e ainda por cima pessimamente equipados, o momento é este de resolver o problema... ou pensam que o povo é maluco! Venal, sim, doido não.

As últimas notícias informam que o governo está bancando de todas as formas o candidato palaciano, gastando demasiadamente o dinheiro que poderia estar melhorando justamente os três maiores problemas que afligem seu povo. Dizem que ele foi o pai do PAT – Programa de Auxílio aos Transgressores, e as verbas correm soltas pelo país afora.

Fico por aqui.
Em revisão.
Qualquer semelhança é mere coincidência, ficção.

ansilgus
Enviado por ansilgus em 30/08/2010
Reeditado em 10/08/2011
Código do texto: T2469253
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