A CLAUSURA E O NOSSO RISCO...

Alguém se julgaria capaz de ficar enclausurado há vários metros no interior da terra, num espaço apertado e com míseros alimentos? Só mesmo a esperança e a vontade de viver são alentos humanos capazes de levar uma pessoa a sobreviver numa situação desumana como esta verificada na tragédia envolvendo os mineiros chilenos. Creio que tais desastres são sinais de Deus para que as pessoas - em primeiro plano - observem a capacidade humana de resistência diante de um perigo iminente de morte, além, é claro, para fazer um alerta dos perigos que nos rondam e que, como seres mortais, temos de ter noção preventiva, para que os perigos que rondam a vida não nos peguem desprevenidos.

Entretanto, experiências como estas tem sido desenvolvidas como forma de prevenção e como teste de resistência ao inusitado em face de uma catástrofe, pois é sabido que em determinados países existem muitos perigos ocultos como terremotos, tsunami ou - aos mais pessimistas - pela evidência de holocaustos que podem anunciar o fim da civilização. Há notícias - sem confirmação oficial - de verdadeiras fortalezas construídas debaixo da terra, para salvaguardar vidas humanas diante da eventualidade de um cataclismo mundial.

É certo que os mineiros que estão presos há 17 dias sob o solo chileno causam perplexidade em nós seres que estamos livres e circulamos pelas vastas dimensões do globo terrestre, mas, ao mesmo tempo, devemos dimensionar as questões sobre um ângulo racional, pois não são pessoas comuns que estavam numa aventura turística e de repente ficaram presas debaixo da terra. São pessoas acostumadas a viveram como 'tatus' debaixo da terra e a profissão que abraçaram lhes permitem ter um discernimento incomum, pois são treinados e cientes de que poderiam ser aprisionados num local de clausura, até porque as minas (conforme mostrado na mídia de domingo), são locais preparados para eventualidades catastróficas, tanto que as locas são construídas com áreas de escape que podem servir de abrigo num momento de desespero.

Isso, contudo, não impede de computarmos na existência do grupo enclausurado algumas questões que fogem do âmbito racional, já que - ao que tudo indica - a mina em questão estava (visivelmente) demonstrando perigo iminente, tanto que há testemunho de que o local apresentava aspectos sombrios e alguns dos mineiros já temiam um desastre. Assim, a primeira sensação que deve estar assombrando a mente de cada um dos enclausurados é o sentimento de irresignação de não terem feito nada para que pudessem evitar o desastre. Esse sintoma de ordem psicológica é que deve movê-los a se recriminar em algum momento.

Isso serve para que todos nós tiremos uma lição. Ocorre que observamos sempre alguém - depois de um acidente - depondo conforme as seguintes palavras: - Nunca esperei que isso fosse acontecer comigo! A meu ver, isso é um erro gritante de conduta que pode levar uma pessoa a sofrer acidentes irreparáveis, já que assim pensando deixa de antever as coisas, ou melhor, deixa de agir prudentemente ou de tomar as cautelas próprias e preventivas que lhes asseguram a segurança da sua tarefa. Ora, se alguém dirige um veículo em alta velocidade, a primeira coisa que deve ter em mente é que corre um risco desnecessário de morrer ou de matar alguém. Assim, pela lógica, só corre risco quem dá causa a esse risco, a não ser que seja algo inesperado, até porque nem mesmo a prevenção é capaz de evitar a morte. Entretanto, prevenir ainda é uma marca que se vincula às estatísticas positivas em favor da integridade física da pessoa.

Evidente que a situação dos mineiros não se enquadra exatamente nesse critério de prevenção, pois só estão salvos (por enquanto) porque existia uma válvula de escape com esse fim. Além do que, a própria profissão que abraçaram inclui o risco. Refiro-me, entretanto, a todos os perigos que nos rondam de perto e que muitas vezes não nos damos conta que eles existem. Assim, costumo observar com insistência a atividade dos motociclistas, ou os chamados 'motoqueiros' que todos os dias arriscam suas vidas no conturbado trânsito das metrópoles. Fico estarrecido quando vejo um deles circulando com suas motocicletas em espantosas velocidades (nas horas de pico); diante de um trânsito louco e inconsequente. Aí vem o raciocínio lógico: Será que nenhum deles pensa que o mal pode estar ao seu lado, pois transitando de forma tão irregular, fazendo arriscadas manobras para evitar o engarrafamento; o acidente não se torna iminente? Isso sem contar que um acidente com moto - ocorrendo em alta velocidade- sempre é fatal.

Assim, a história desses mineiros, acontece todos os instantes nas grandes cidades brasileiras, pois muitos condutores de veículos e de motocicletas transitam por "túneis da ignorância" que a qualquer momento podem desabar em nossas cabeças. Os mineiros estão lá tentando salvar suas vidas, porque se preveniram e se abrigaram numa área de escape. Passarão por dificuldades, enfrentarão a fúria de seus próprios corações, mas poderão aguentar firme porque estão intactos fisicamente.

Por outro lado, milhões de pessoas pelo Brasil e pelo mundo, mesmo não estando enclausurado num túnel embaixo da terra, correm riscos maiores, por não saberem administrar a própria liberdade e, assim, utilizam-na para por em risco a própria existência. Pelo menos desse mal os mineiros estão a salvos, porque a clausura não lhes permitem conduzir uma motocicleta ou um veículo em alta velocidade.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 30/08/2010
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