Adoro bala de gelatina
Adoro bala de gelatina com formato de ursinho. Sou, no fundo, simples, ingênua, levemente dura e incrivelmente amorosa. O sol de hoje me cega os olhos e depois de um almoço de meninas, vejo-me presa novamente ao mesmo computador, no mesmo cubículo, que insistem em chamar de mesa. A noite foi triste, sempre que penso em me despedir de uma possibilidade fico triste – até porque nele, como sempre, eu realmente acreditava.
Porém o carrossel rodopia veloz como um relâmpago e quem sabe tudo mude. E eu só queria um telefonema, um delicado gesto de atenção, eu só queria a sua vida inteira. Isso seria muito para você? Epifanias a parte, se eu pudesse hoje escreveria o dia inteiro, mas nem inspiração para isso eu tenho. Queria comer uma bacia de bala de gelatina e com isso emagrecer três quilos, seria bem mais fácil se a vida fosse assim.
Gostaria profundamente decompor minha ingenuidade e minhas ilusões, certamente eu não teria passado tanto tempo ludibriada por você. Levaria as coisas com maior leveza e não teria a eterna lembrança de suas mãos em minha cintura e teu corpo encaixado no meu. Eu leio meu futuro num tarô na internet. E me diga onde leio a verdade? Não sei mais distinguir o real do imaginário. E me perco junto ao gato de Alice, perguntando para que lado seguir, e até ele, sorri debochado da minha ansiedade e colabora com a minha insensatez.
Mal sabe você que eu tenho pistas de dança embaixo da minha cama, e monto festas relâmpagos e mais dia - menos dia conseguirei substituí-lo, como fiz com seu antecessor. E que em função destas eternas trocas, tenho tantos monstros dentro dos meus armários. E estou sempre precisando renovar meu visual – já que minhas roupas moldaram personagens e subgêneros de emoções, que eu acreditava verdadeiramente que eram reais.
Eu fecho os meus olhos e finjo chorar uma banheira, uso colírios para soar mais real, lágrimas falsas para amores inventados. Eu sou apenas agradavelmente estúpida. E minha vida anda tão entediante quanto o filme antigo que passava na TV a cabo. Acho que vou voltar ao freezer, nele pelo menos fico anestesiada de qualquer sentimento e privar-me de ilusões que me fazem perder o rumo, prefiro sair da armadilha idealista e adotar uma perspectiva realista do mundo. E quem sabe assim, percebo os detalhes das flores do meu jardim...