O dinossauro ainda respira
Tem um camaradinha por nome Marcelo Ricardo, da Rádio Comunitária Diversidade, do Jardim Veneza em João Pessoa, que só me chama de “dinossauro da comunicação comunitária”, e sou mesmo. Contam-se em dezenas os anos em que estou nesse bonde. Tenho mais tempo de militância no movimento de rádios livres e comunitárias do que ele tem de idade. A barra é mais que pesada, que a burguesia deste país não aceita pobre tomando a palavra. Mas a luta é necessária, e temos criado parcerias com os movimentos sociais, o chamado terceiro setor, que nos leva a não esmorecer na luta por políticas públicas de comunicação alternativa e popular.
Hoje mesmo (28 de agosto) estive o dia todo no 5º Congresso da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária na Paraíba, realizado no Sindicato dos Professores do Estado da Paraíba, onde tivemos a satisfação de debater com figuras da categoria da professora Sandra Raquew, da UFCG, Mariah, do Grupo de Mulheres Yalodê, Mabel Dias, da Abraço e José Sotter, coordenador nacional da entidade, entre outros companheiros e companheiras que teimam em soar o grito de alerta: sem o microfone na boca do povo, jamais sairemos do ovo.
No encontro de hoje rolou uma mesa de debates sobre gênero nas rádios comunitárias, assunto que estamos documentando no filme “Feminino Plural”. Aproveitei e entrevistei as nossas guerreiras e alguns companheiros das rádios representadas no Congresso. Uma das entrevistadas foi Sandra Raquew, mais que qualificada interlocutora do movimento, pesquisadora de relações de gênero em práticas radiofônicas no contexto das rádios comunitárias.
Lá estavam Lucinalda, Geilda e Angélica, da Rádio Comunitária Mutuaçu, uma comunidade quilombola da cidade do Conde. Exu, o Orixá da comunicação, esteve na roda com a nossa Mãe de Santo Mariá que falou de intolerância religiosa e dos preconceitos contra as religiões de raiz africana, inclusive nas próprias rádios comunitárias. “Se queremos fazer o diferencial, temos que aceitar todas as religiões nas nossas rádios”, ela afirmou. Combatendo também a intolerância estavam os meninos e meninas da Rádio Independente do Timbó, liderados pela Edjane, jovem empenhada em mostrar a realidade de sua comunidade e denunciar o padrão dominante da grande mídia quando se trata de produzir notícias de bairros pobres e as relações que daí resultam.
Mesmo diante de tantos entraves, a companheirada resiste. Igual a Lula da Rádio Comunitária Umbu, da cidade de Umbuzeiro, que já foi preso, processado e perseguido, mas insiste em construir o sonho da comunicação livre.
O que se percebeu nessa troca de informações é que estamos muito longe da organização que sonhamos, mas já houve períodos piores. O dinossauro continua sua caminhada até a extinção...
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