MEU SUBMUNDO ESCOLAR

Eu não passava dos sete anos de idade. Primeira-série, salvo engano. Época complicada... Estudava em um colégio de freira, um dos maiores da cidade e, na visão de um menino, uma verdadeira selva.

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Seguíamos à risca a teoria de Darwin, onde apenas os mais aptos sobreviviam. Os "hooligans" da quinta e sexta-séries dominavam aquele espaço. Lembro o quão complicado era comprar uma coca-cola na cantina, uma verdadeira odisseia. Assim, para sobrevivermos nessa "megalópole", precisávamos andar em grupos. Era o que fazíamos.

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Jogar futebol na quadra? Utopia. O gol era aquele portão no canto do ginásio, e com a máxima atenção pra que nenhum dos "gigantes" roubassem a bola. Mas roubavam, e não havia o que fazer. Contar pra tia era suicídio. No dia seguinte o delinquente estaria lá, no mesmo lugar, impune, pronto pra acertar as contas. Nessa hora ninguém via nada, ninguém sabia de nada...

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Jogar bafo era se sentir em um daqueles becos do inferno. Um vício, onde gastávamos toda a nossa "fortuna" que nossos pais nos davam pra lanchar, em figurinhas do Campeonato Brasileiro de 1993, e colocávamos "na roda". Malandragens e catimbas ocorriam aos montes. Eu suava como quem aposta a casa em uma daquelas roletas de Las Vegas. Era emocionante...

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Era época de ostentação. Mini game "999 in 1" o fazia subir de status, andar com a galera mais velha, o que resultava em sucesso com as meninas. Aquele papo de Darwinismo foi corroborado com a febre dos iô-iôs. Gostaria de ser alguém no meio da multidão? Aquela criança precoce, que andava com o pessoal descolado da quinta-série? Bastava ostentar. Você passaria a ter aliados, mas, claro, isso tinha um preço. Quem presta favor, uma hora retorna pra cobrar, e de maneira exacerbada. Muitas vezes era o nosso lanche inteiro...

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Havia também o pessoal que tratava da parte ilícita. Era tudo esquematizado. Um vigiava, o outro pegava a mercadoria e saíamos em grupo para um local mais afastado. A intenção era não chamarmos atenção. Pronto.Local seguro, ninguém por perto. O fornecedor abria a mochila e mostrava o produto. A Playboy do mês. Ele avisava que, por um precinho camarada, conseguiria mais. Inebriados, disfarçávamos e saíamos de mansinho quando o inspetor se aproximava. Ninguém desconfiava. O esquema era forte.

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Todo o lugar tinha os "costas-quentes". Esses tinham alguém influente, como um irmão ou primo mais velho, da "alta cúpula". Logo, tornavam-se intocáveis. Já eu, que não possuía padrinho, precisei me adaptar. E sobrevivi, pelo menos é o que parece.

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Dizem que a escola prepara o aluno para o mundo lá fora, mas poucos sabem que de maneira tão real...

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