Deu padre na cabeça!
Madura, bonita e inteligente. Típica moça imaculada do interior, presa aos rígidos conceitos éticos e morais ainda vigentes no final dos anos cinquenta. Exigente, devido a elevada auto-estima, sonha encontrar a sua alma-gêmea.
Prendada, gosta de culinária, e, para preencher o tempo visita um site sobre o assunto, onde começa a trocar receitas com um leitor de outra cidade. Descobrem-se encantados mutuamente, em pouco tempo. Passo seguinte: conversas e conhecimento via internet, fotos trocadas, etc.
Florisbela começa a fazer planos para o futuro, face ao entendimento e cumplicidade crescentes. Não consegue “tirar o rapaz da cabeça”. Vê-se na praça tomando um sorvete em sua companhia, passeando de mãos dadas... Até, indo ao supermercado juntos.
Não, não pode mais esperar para conhecê-lo pessoalmente. Proposta feita... Proposta aceita!
A ansiedade toma conta da Florisbela, que respira o “candidato a alma-gêmea” dia e noite, enquanto aguarda o dia do "grande encontro".
Religiosa convicta, segue no domingo para a missa das sete da noite, como de costume. Concentração, zero! Transcorre a missa e, está lá no padre a imagem do moço. Não adianta. Por mais que tente, é o padre falando e o moço na cabeça. Imagina-se casando naquela igreja, com aquele padre celebrando a cerimônia.
Hora da comunhão. Estende o sacerdote a mão para entregar-lhe a hóstia e, ainda distante, viajando nos seus sonhos, a sua reação.
— Sim, aceito meu amor!
E oferece-lhe o dedo, para que seja colocada a aliança.