De piada em piada...
"Os gracejos que causam dor não são gracejos."
Miguel de Cervantes
Não pensem vocês que vou dizer aqui que não gosto de piada. Gosto muito quando numa roda de amigos alguém se lembra da última... Eu também sei algumas e me divirto em contá-las... mas não me sinto confortável em contar ou em ouvir piadas depreciativas, racistas, homofóbicas, sexistas.
Tá. Certamente alguém vai dizer que sou uma chata e provavelmente terá razão. Logo eu que sei e já contei dezenas de piada de loura. Eu que tenho olhos claros, nasci loura, de cabelos encaracolados e passei minha infância ouvindo apelidos depreciativos do tipo “cabelo de barbante”, “cabelo de milho” e os bem carinhosos “cabelo de São João do carneirinho”, “anjinho de procissão”, “cachinhos dourados”.
E não é piada contar que já fui mesmo anjinho de procissão de túnica e longas asas, já coroei Nossa Senhora numa linda noite de 31 de maio, já desfilei em pelotão de banda marcial, tudo também pela minha lourice... alguém sempre achava que anjo tinha essa aparência e quando menina nunca pensei em duvidar que não.
Mas voltando as piadas, sei que é um gênero literário (sim senhor) dos mais populares e tem como objetivo divertir, provocar o riso. Vários autores destacam sua importância, inclusive com dissertação de mestrado, tratando com seriedade, contextualizando, conceituando, categorizando e mostrando as inúmeras possibilidades de uso.
Contar bem uma anedota ou piada não é habilidade que todos que queiram possuam.Muitos "matam" a graça logo no inicio e a anedota se perde. Eu, que assumo que vivo rindo para o mundo, sei o quanto é importante para a saúde física e mental de uma pessoa ter bom humor, saber rir, manter esse humor inclusive nas situações adversas.
Por outro lado, hoje aos 47 anos, custo acreditar que uma pessoa possa se divertir depreciando outra, ressaltando negativamente características e condições físicas, lugar de nascimento, orientação sexual ou religiosa.
“A consciência é uma iluminação dolorosa”, dizia o mestre Paulo Freire e ter consciência é não naturalizar o preconceito, não banalizar, negar essa ingenuidade doidivanas, irresponsável com a vida do outro.
Sei que quem não faz ideia de quem sou, deve achar que reflexões desse tipo vindo de uma loura que tonaliza os cabelos e faz luzes para manter a cor que teima em branquear deve parecer piada mesmo... mas, para além das piadas, dos gracejos sem sentido, vejo com tristeza o quanto os rótulos são mais importantes que a essência.
De piada em piada o preconceito se propaga e, ao concluir, ocorreu-me que o título (capcioso) poderia ser Loura Pensando... o que eu ia ter de leitores, fazendo piada, querendo saber se isso era possível... Mas achei melhor não. Deixe que pensem, que digam, que falem, que imaginem, que escrevam o que quiserem...
"Os gracejos que causam dor não são gracejos."
Miguel de Cervantes
Não pensem vocês que vou dizer aqui que não gosto de piada. Gosto muito quando numa roda de amigos alguém se lembra da última... Eu também sei algumas e me divirto em contá-las... mas não me sinto confortável em contar ou em ouvir piadas depreciativas, racistas, homofóbicas, sexistas.
Tá. Certamente alguém vai dizer que sou uma chata e provavelmente terá razão. Logo eu que sei e já contei dezenas de piada de loura. Eu que tenho olhos claros, nasci loura, de cabelos encaracolados e passei minha infância ouvindo apelidos depreciativos do tipo “cabelo de barbante”, “cabelo de milho” e os bem carinhosos “cabelo de São João do carneirinho”, “anjinho de procissão”, “cachinhos dourados”.
E não é piada contar que já fui mesmo anjinho de procissão de túnica e longas asas, já coroei Nossa Senhora numa linda noite de 31 de maio, já desfilei em pelotão de banda marcial, tudo também pela minha lourice... alguém sempre achava que anjo tinha essa aparência e quando menina nunca pensei em duvidar que não.
Mas voltando as piadas, sei que é um gênero literário (sim senhor) dos mais populares e tem como objetivo divertir, provocar o riso. Vários autores destacam sua importância, inclusive com dissertação de mestrado, tratando com seriedade, contextualizando, conceituando, categorizando e mostrando as inúmeras possibilidades de uso.
Contar bem uma anedota ou piada não é habilidade que todos que queiram possuam.Muitos "matam" a graça logo no inicio e a anedota se perde. Eu, que assumo que vivo rindo para o mundo, sei o quanto é importante para a saúde física e mental de uma pessoa ter bom humor, saber rir, manter esse humor inclusive nas situações adversas.
Por outro lado, hoje aos 47 anos, custo acreditar que uma pessoa possa se divertir depreciando outra, ressaltando negativamente características e condições físicas, lugar de nascimento, orientação sexual ou religiosa.
“A consciência é uma iluminação dolorosa”, dizia o mestre Paulo Freire e ter consciência é não naturalizar o preconceito, não banalizar, negar essa ingenuidade doidivanas, irresponsável com a vida do outro.
Sei que quem não faz ideia de quem sou, deve achar que reflexões desse tipo vindo de uma loura que tonaliza os cabelos e faz luzes para manter a cor que teima em branquear deve parecer piada mesmo... mas, para além das piadas, dos gracejos sem sentido, vejo com tristeza o quanto os rótulos são mais importantes que a essência.
De piada em piada o preconceito se propaga e, ao concluir, ocorreu-me que o título (capcioso) poderia ser Loura Pensando... o que eu ia ter de leitores, fazendo piada, querendo saber se isso era possível... Mas achei melhor não. Deixe que pensem, que digam, que falem, que imaginem, que escrevam o que quiserem...