Do outro lado do muro

- " Neguinho filho da puta do caralho, a casa caiu ". – Foi a frase que Júnior ouviu do delegado, ao ser preso em sua residência.

Por muito tempo Júnior desafiou a polícia. Achou que sairia ileso de qualquer coisa que fizesse, afinal de contas, estava cercado por seus “soldados” e de tudo que acontecia no morro era informado pelos mesmos.

Mas a ação da polícia foi calculada, mais do que bem planejada, uma verdadeira avalanche na arte de prender vagabundos.

O “fogueteiro” não percebeu a invasão. Foi tudo muito rápido, como um furacão.

É, o BOPE chegou...

Numa fração de segundos, lá estava o batalhão da polícia desmantelando aquele “inferno” urbano. Aquele horror que assombrara aquela comunidade por anos a fio.

É, parece que esse pesadelo chegara ao fim – pelo menos para os moradores que foram obrigados a conviver com o tráfico de drogas, por anos. Tráfico esse, comandado por Júnior.

O pesadelo começou para Júnior. Traficante, temido pelos demais membros da “boca” e também pela comunidade, um verdadeiro monstro.

Nem sempre Júnior fora assim. Quando criança era um menino alegre, educado, sempre de bem com a vida, sorriso estampado no rosto. Mas na adolescência, um acidente marcara sua vida.

Os pais foram brutalmente assassinados num assalto, quando voltavam do trabalho. De lá para cá fora criado por uma tia rabugenta que, pouco ligava para ele, o que na realidade, traduzia-se por "criar-se sozinho". E ele se "criou", da maneira dele, claro.

Dessa época para a vida bandida foi um pulo e com o tempo, isso só se agravou.

Agora era a hora de Júnior pagar por todas as maldades que cometera. Do outro lado do muro, naquele lugar completamente periférico e numérico, onde ninguém tinha o seu verdadeiro lugar, era hora de lutar, somente, por sua sobrevivência. Na cadeia é você por si e ninguém por todos. Se der bobeira, “roda”.

E Júnior “rodou”, na cadeia da vida.

A vida bandida não é mole nem para quem está comandando do alto do morro, quem dirá para quem está atrás das grades. Júnior pôde perceber isso quando seus dias passaram a ser monitorados por um carcereiro.

O tempo passou e com ele chegaram os arrependimentos, a tristeza e toda uma vontade de escrever uma história diferente, e consequentemente, mais feliz.

Do outro lado do muro, Júnior, conseguiu resgatar valores como honestidade, respeito e bondade. Viu também que o melhor caminho, não é o da criminalidade e que não é possível corrigir um erro, cometendo diversos outros.

Ele se arrependeu e quis escrever uma história diferente, e não ser mais um número negativo nas estatísticas do crime, mas é certo que nem sempre é assim.

A liberdade faz falta e só depois de perdê-la é que ele foi capaz de perceber isso.

Portanto, fica aqui uma lição: dê valor a sua vida, pois essa é a maior riqueza de Deus para nós. E lembre-se que nem sempre o menor atalho é o melhor caminho.

Vanessa Pires
Enviado por Vanessa Pires em 29/08/2010
Reeditado em 04/08/2012
Código do texto: T2465749
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