Depilando perereca
Recebi uma mensagem, via internet, que me fez rolar de rir. É um riso meio de forca, meio sádico, vá lá. Mas não há como contê-lo, ao ler o hilário relato de uma mulher que decide fazer uma torturante depilação cavada na virilha e cercanias, “por livre e espontânea pressão” das amigas, para agradar o namorado.
Como não gosto de rir sozinho, resolvi compartilhar com meus leitores o primor de um relato, recontando-o e escoimando-o de palavras impublicáveis, embora apropriadas para uma situação de quase tortura medieval, à base de cera quente.
Chegado o dia previamente agendado, nossa personagem colocou calcinha apresentável e roupas bonitas, para ficar chique, e lá se foi...
Após permanecer na sala de espera por um bom tempo, entrou num longo corredor. De um lado, a parede e, do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas, ouviam-se gemidos, gritos e conversas. Uma mistura de "Calígula" com "O Albergue", segundo ela, que já sentia um frio na barriga ali mesmo. Tirou a calça e, timidamente, ficou lá estirada de calcinha na maca, num daqueles cubículos.
Como queria depilação bem cavada, a atendente a deixou com a calcinha tapando apenas uma fina faixa da Abigail - nome carinhoso que dava ao seu órgão sexual.
A atendente a pede para abrir as pernas “que nem borboleta”. Ela não entende, e logo recebe instruções precisas: “dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado”...
- Arreganhada, né?
A atendente sorri e passa a primeira camada de cera quente naquela virilha virgem. No relato, ela conta que “estava gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele do meu corpo tivesse saído. Que apenas a minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar aquela infeliz depiladora.”
- Quer que tire dos lábios?
- Não, eu quero só virilha, bigode não – respondeu.
Mal sabia a pobre coitada que os lábios eram outros, os da “perseguida” Abigail...
Vencida pelo convincente argumento de que “quem está na maca, tem que sofrer mesmo”, ela topou.
Ao conferir a “Abigail” de perto, a depiladora nota que há alguns pelinhos e cabelos encravados e resolve pinçá-los.
- Pode pinçar – autoriza a coitada –, tá tudo dormente, mesmo. Num tô sentindo nada!
Mas ela estava enganada. Sentiu cada picadinha daquela pinça arrancando cabelinhos resistentes da pele já dolorida. Mas o pior estava por vir...
- Vamos ficar de lado agora, pra fazer a parte cavada?
Ela obedeceu e deitou “de ladinho” e ficou esperando novas ordens.
- Segura sua bunda aqui. Puxa essa banda aqui de cima, pra afastar da outra banda.
Ela disse que teve vontade de chorar. Não podia ver o que a depiladora via, mas certamente estava de cara para ele, o olho que nada vê... E ficou imaginando quantos haviam visto aquela cena, à luz do dia. Nem sua ginecologista! Quis chorar, gritar, soltar sonoros flatos na cara daquela infeliz depiladora, para envenená-la...
Enquanto ela matutava, a depiladora puxou a cera. Pensou que “a bunda toda tivesse ido embora e não ficara nem uma preguinha para contar a história”. O que lhe restou como possibilidade foi morder o travesseiro e grunhir “sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto...” – relata.
- Vira agora do outro lado – ordenou a depiladora.
Ela virou e segurou instintivamente a outra bandinha. Apenas uma lágrima solitária escorreu de seus olhos. Era dor demais, vergonha demais. E ali mesmo deliberou virar feminista, morrer peluda, protestar, fazer passeatas, criar uma lei anti-depilação cavada.
Mas logo se esqueceu. Talvez porque as amigas tivessem razão no vaticínio: seu namorado gostou...