Desculpas de um cronista
É de total acordo do senso comum que a poesia é o gênero literário mais admirado pelas mulheres, pela sua beleza e musicalidade alcançadas através da genialidade de quem sabe trabalhar com a métrica das frases. E como soa bem, as sílabas tônicas nos lugares certos, toda aquela cara de amor épico e arrebatador que os poemas imprimem em si.
Mas não sei até que ponto é satisfatório para quem escreve. E se a palavra certa, aquela palavra que você procurava, aquele sentimento mais sincero e puro vindo do âmago da sua existência, não rimar com o fim da frase do verso anterior? Você irá precisar trocar por outra palavra, que não irá te representar tão bem quanto a primeira que você pensou. Ou seja, todo poeta é hipócrita? Todo poeta não diz necessariamente o que pensa se não rimar, se não condizer com a métrica? Então todo poema é, essencialmente superficial?
Bom, tenho que concordar que essa análise não é tão imparcial quanto deveria ser, já que eu nunca consegui escrever um poema que não merecesse outro destino a não ser a lata de lixo. Quem sabe, os melhores poetas sejam aqueles que não precisam ajustar nada. Eles simplesmente possuem a rima, a métrica, a musicalidade dentro de si.
Fernando Pessoa deveria conceber a idéia ao mesmo tempo em que concebia a estrutura do poema, e como se não bastasse, concebia diversas idéias diferentes, que ele alocou em diferentes homônimos e perpetuou sua genialidade, fez com que todos admirassem essa habilidade arrebatadora.
Eu? Eu fico tentando inventar desculpas para convencer as pessoas que a crônica pode ser tão admirada quanto o poema. Mas acho que eu estou alguns séculos atrasado.