O Vassoureiro
Em abril de 1949, Rubem Braga escreveu: “Ora não preciso de tanto. Nem de tanta vida, nem de tanta coisa mais. Dinheiro apenas para não ter as aflições da pobreza; poder somente para mandar um pouco, pelo menos, em meu nariz; e da felicidade um salário mínimo: tristezas que possa agüentar, remorsos que não doam demais, renúncias que não façam de mim um velho amargo.” Mais uma de suas famosas crônica, dessa vez sobre um vassoureiro, homem simples, vida normal, em que Rubem observa a simplicidade como um dos caminhos para a satisfação humana.
Na verdade, condicionamos nossa felicidade aos “ses” ou “quandos”, responsabilizando as circunstâncias, pelo medo de nos contentarmos com o pouco que a vida nos oferece. Seria mesmo pouco?
A verdade é que existe uma ambição sadia, que nos impulsiona e nos torna mais competitivos. Mas esse mundo cada vez mais exigente com relação à postura profissional, padrões estéticos e morais, desenvolve nas pessoas um conceito de querer mais, para viver mais e melhor, gerando uma certa frustração ao se descobrir a alegria nos pequenos prazeres da vida. Ser feliz então seria somente isso?
Escrevo hoje, com muito mais certeza, que fazer o que se gosta e estar com quem se gosta, acrescenta-se vida a vida. Não nos tornamos limitados porque contentamo-nos com nossa profissão, seja ela quão modesta for, com nosso estilo de vida... cada um é feliz da forma que escolhe.
Ainda sobre a crônica, Rubem Braga diz que o vassoureiro é um homem digno e útil. Não seria esse também o nosso objetivo? Exercermos nossa vocação com dignidade, contribuindo, produzindo, sendo útil aos que nos rodeiam?