Um jogo Rejuvenescedor
Um jogo rejuvenescedor
Jocenir Barbat Mutti
Jan.2010
Com mais de seis décadas nas costas, descobri no jogo de tênis uma bela maneira de me sentir mais jovem.
Quebrei meu tornozelo jogando futebol. Após diversas seções de fisioterapia resolvi tratar melhor meu corpo fazendo musculação.
O futebol já não estava mais nos meus planos, mas minha vida esportiva, que começou na infância, deveria continuar. Pensei muito. O próximo esporte não poderia ter o contato direto entre parceiros e deveria ser individual, similar ao xadrez, onde me dei bem, mas infelizmente só ativava a mente.
Numa viagem que fiz para uma praia de Santa Catarina, presenciei o dono do hotel, em Ponta das Canas, jogando tênis de dupla com outros parceiros, imaginei-os mais velhos que eu. No café da manhã do dia seguinte, puxei conversa com esse senhor, que me confessou ter começado a jogar na idade em que eu me encontrava e que o jogo de tênis para ele era um grande momento de felicidade. Aquele homem me cutucou.
Como meu filho mais velho já tinha entrado no tênis há poucos anos, contratei seu professor e comecei a jogar. Fui apresentado à raquete na primeira aula.
Após um ano de treino, constatei que minha musculação deveria ser redirigida para esse novo esporte. Fiz uma epicondilite lateral no cotovelo do braço direito. É uma doença de tenista, disse meu médico.
Custou uma série de fisioterapias. Voltei a jogar, mas decidido a usar o golpe de backhand com as duas mãos. Tive que insistir até convencer meu professor de que eu não iria perder aquele ano de treino e que meu golpe iria ficar como terminou, mais firme e sólido, aliviando o braço direito com a mão esquerda.
Nessas alturas meu filho menor também já tinha entrado na dança, e começavam os dois filhos a disputar alguns torneios. Eu só ficava olhando eles jogarem. Era o máximo que eles permitiam fora a bolinha que eu cheguei a juntar.
Mas minha determinação continuava firme, estudava fisicamente os movimentos e me tornei, considerando minhas limitações, um grande observador do jogo de tênis.
Do segundo ao quarto ano, participei de diversos torneios da categoria iniciantes. Não consegui ganhar um torneio, mas cheguei a algumas semifinais. Meu objetivo inicial estava atingido.
Eu queria mais, escolhi um novo professor que dialogasse mais, que ouvisse mais minhas reivindicações e que levasse mais em consideração a minha idade.
Lendo o livro “Winning Ugly” de Brad Gilbert, tenista americano de nível médio, que usando muito sua cabeça e a estratégia conseguia ganhar dos campeões. Incorporei algumas dicas dele, como:
- aquecer a musculação em bicicleta ou transport antes de jogar para depois alongar;
- estudar e explorar as deficiências do adversário;
- reconhecer as virtudes do oponente para poder se defender melhor;
- ter sempre um kit de emergência tanto para o físico como para os equipamentos.
Em junho de 2009, meu professor, acreditando na minha capacidade, me incentivou a participar do campeonato estadual na categoria veterano B, que se realizou num renomado clube de Porto Alegre. Num final de semana, jogando partidas de três horas de duração, sol escaldante, consegui ser vice-campeão com direito a um belo troféu, para surpresa de minha família e amigos.
Hoje, meus filhos ainda jogam melhor do que eu, mas já curtem jogar comigo, que vou sempre acompanhado de um grande amigão de muito anos.
Mas a grande surpresa mesmo foi a decisão de minha esposa de também jogar tênis. Pela atitude que estou presenciando, ela vai em frente.
Vou me sentir um guri feliz no dia que jogar com filhos, mulher, netas e noras.