CAPÍTULO XXIII - Diário Poético-Sentimental de Uma Greve: Curiosidades, Emoções e Poesia na Greve do Judiciário Trabalhista Mineiro
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
(Carlos Drummond de Andrade)
27 de maio de 2010: esse terceiro dia de greve em Brasília levou nada menos do que três mil servidores às portas do Supremo Tribunal Federal. Segundo Roberto Policarpo, coordenador geral do SindjusDF, o Ministro do Planejamento Paulo Bernardo informou ter recebido orientação do próprio presidente Lula para negociar.
Os servidores gritavam palavras de ordem na manifestação e chamavam os colegas para se juntarem a eles:
- Vem pra greve, vem! O PCS é seu também.
- De camarote não, a luta é aqui no chão.
Ao mesmo tempo em que muitos de nós sofremos fortes e variadas pressões de nossas chefias imediatas para que terminemos a greve e retornemos ao trabalho, continuam a chegar até nós importantes manifestações de apoio ao movimento.
Uma delas, por exemplo, veio nada menos do que do Presidente do TRF da 1ª. Região, Desembargador Olindo Menezes. Segue abaixo na íntegra a sua declaração pública de apoio à greve e à aprovação do nosso plano de cargos:
- Um dos primeiros defensores do Plano de Carreira dos Servidores fui eu. Não tiro o direito de vocês se manifestarem, pois ele é legítimo. Acredito que essa questão está bem encaminhada pelos presidentes do STF e do STJ. Se dependesse unicamente de mim, esse PCS já estava aprovado hoje mesmo. O servidor deve ser valorizado. Não tenho ingerência direta nas negociações, mas no que depender de mim, o PCS será aprovado. Sou um Ministro e infelizmente não posso “grevar”, mas parabenizo a vocês pelo movimento.
Também o Procurador-Chefe da Procuradoria Regional da República, Dr. Alexandre Camanho, disse que apóia a luta dos servidores. Camanho entende que é preciso valorizar os servidores do MPU, concordando que a evasão dos quadros é um dos pontos de preocupação que reforça a urgência na aprovação do projeto.
Outra manifestação interessante e mais próxima de nós ocorreu numa audiência trabalhista aqui mesmo em Minas Gerais, na cidade de Contagem. O colega Fernando Neves, um dos representantes da diretoria do sindicato, leu para os manifestantes uma ata de audiência da 5ª Vara do Trabalho de Contagem na qual um dos advogados que atua naqueles autos declara total apoio à greve dos servidores.
Então o que falta agora é que mais e mais servidores se juntem à greve. E é nesse sentido que o colega Jair Lemos manifestou também publicamente a sua decisão de aderir à greve:
- Se no princípio eu era contra a greve, hoje “entrei de cabeça”. Entendo que sem ela será impossível chegarmos ao PCS.
Já no Piauí, o servidor Pedro Laurentino, sugeriu a seguinte proposta a ser levada à reunião ampliada da Fenajufe: que os grevistas de todo o país acampem em frente ao prédio do Ministério do Planejamento.
- Nós temos que começar a pressionar diretamente o Executivo. Se a gente conseguir umas 300 pessoas pra acampar lá, eu duvido que eles não negociem com a gente.
Tivemos hoje em Belo Horizonte cerca de 400 manifestantes em frente do prédio da Justiça do Trabalho, na Avenida Getúlio Vargas. É sempre bom lembrar que Minas Gerais é um dos poucos estados do Brasil no qual as manifestações ocorrem diariamente.
Isso já acontecia nas greves anteriores e se manteve na atual. Para nós, manifestantes, esses encontros alegres e diários são como um alimento para o corpo e o espírito. São da maior importância na medida em que é nesses encontros que ocorrem os nossos contatos com os demais colegas e onde podemos trocar idéias e informações sobre o movimento e manter os espíritos elevados.