Sexto sentido
O que é a capacidade de recordação da nossa mente, não é mesmo? Eu recordo com detalhes minúsculos de um acontecimento ocorrido há algum tempo atrás.
Eu trabalhava numa empresa que era formada por cerca de 200 pessoas, sendo que 98% desse total eram homens.
Essa grande maioria de homens trabalhava no serviço pesado. Eles saíam com uma quantidade considerável de ordens de serviço, além de usarem bastante força física para desempenho de suas tarefas.
Mesmo sem eu ter cumprido um cargo como esse, eu podia perceber que era desgastante, visto que o retorno à empresa no fim do expediente era a contemplação da exaustão humana.
Foi uma oportunidade de conhecer vários tipos de pessoas e aprender muito. Guardo inúmeras recordações, mas tem um caso em particular que eu gostaria de destacar:
Havia um funcionário que estava havia uns quatro anos na empresa e era o retrato do funcionário-problema. Ele não gostava de ser prestativo e proativo nas suas tarefas e tinha um ótimo álibi para justificar-se: quando algum gerente reclamava do seu comportamento e o alertava de que ele poderia ser desligado por causa disso, ele levantava a barra de sua calça e mostrava uma ferida enorme na sua tíbia, onde popularmente conhecemos como canela.
Embora os gerentes ficassem irados com seu comportamento, quando viam a ferida, não tinham como argumentar. E várias vezes pude contemplar essa cena.
Todos os gerentes e supervisores que o detinham em sua equipe, o confrontavam, mas logo eram sensibilizados por aquilo tudo.
Confesso que não era fácil olhar aquela ferida que o funcionário detinha, pois além do diâmetro, se é que posso chamar assim, ainda tinha um aspecto purulento e a reação era de nojo, quase que instantâneo.
Algum tempo se passou e o comportamento desse funcionário tendeu-se a piorar. Ninguém mais conseguia suportar tudo aquilo. Mas como ser capaz de tanta ‘insensibilidade’ em desligar um funcionário com um problema grave? Ninguém queria fazer o papel desse ‘carrasco’.
Porém, certo dia, um gerente, acredito que no limite da paciência, o repreendeu quanto ao seu comportamento e disse que não havia justificativa para que ele só cumprisse horário e não desempenhasse as suas tarefas. O funcionário levantou novamente a sua calça e mostrou a sua ferida, mas dessa vez, o gerente continuou argumentando, de forma que o funcionário não percebeu que enquanto ele debatia com o gerente, havia quase um minuto que o mesmo estava com o dedo sob a ferida.
O funcionário ainda tentou algum argumento, mas a esse momento, o gerente já tinha tomado as suas conclusões e visto que durante muito tempo o funcionário se resguardou numa dor que não havia.
Agora, só alguém com muita coragem de colocar o dedo na ferida para descobrir isso, não é mesmo?