Another brick in the wall

"All in all it's just another brick in the wall..."

Pink Floyd - The Wall

A Escola, tal como a concebemos no mundo moderno, mudou pouco, muito pouco. Ou - pra ser severamente mais franco - não mudou basicamente em nada. Desde o final do século XIX foram surgindo invariavelmente em vários pontos do mundo críticas ao seu perverso modelo fabril e mercadológico. Vários foram os pensadores que se ergueram para lhe acusar a sua face opressora, face que ela tentava inutilmente esconder. Louis Althusser, Adorno, Horkheimer, entre outros pensadores, escreveram obras que se tornaram verdadeiros clássicos sobre o tema. Outra obra que faz crítica do modelo fabril da Escola e que se tornou um clássico no seu gênero de expressão, foi o álbum The Wall, da famosa banda de rock progressivo, Pink Floyd. Todos eles, cada qual a sua maneira, procuraram desmascarar as relações existentes entre a Escola e os interesses das classes dominantes e, alguns, os mais utópicos, como o educador Paulo Freire no Brasil, propunham a existência de uma escola que pudesse ser realmente o espaço do diálogo, da emancipação dos oprimidos e da transformação social.

Infelizmente a Escola, no seu modelo fabril, mercadológico, está longe de promover a reflexão crítica, a emancipação dos oprimidos, a autonomia intelectual e moral dos homens. Longe de formar cidadãos a escola tem formado – e aqui faço uso de uma imagem que até já se tornou um clichê – verdadeiros robozinhos do sistema: criados apenas para reproduzir o que é estabelecido pelo Grande Sistema do mundo burguês. Esse mundo que encara a todos como peças descartáveis de uma enorme engrenagem que não pode, sob hipótese alguma, parar. A engrenagem, a Grande Máquina, precisa continuar, tudo pelo Progresso da Pátria e da Humanidade, tudo pelo Progresso das Ciências e da Tecnologia, ela precisa continuar a produzir, produzir, incessantemente, ela precisa despejar mais fumaça, mais fumaça, e precisa de mãos que movam o carvão, que ergam edifícios, muros, derrubem árvores, que derrubem todas as árvores, de maneira que nenhum menino desobediente possa no futuro inventar de subir e comer manga verde! A Máquina, a Grande Máquina precisa funcionar, a Máquina não pode parar. Ela precisa da publicidade e da propaganda para estimular o consumo, ela precisa das telenovelas para estabelecer modelos de conduta mais dóceis, ela precisa de intelectuais e de cientistas para servir a seus interesses, de professores e de líderes religiosos que professem verdades incontestáveis, ela precisa – sobre tudo e sobre todos – se mover, enriquecer o bolso dos abutres colunáveis, das poderosas corporações burguesas! Pois vamos que o tempo é curto, corram, movam-se, deixem de preguiças seus indolentes, a Máquina precisa continuar, tudo pelo Progresso, tudo pelo Progresso, time is money!

Se morre um operário na construção, não tem problema, enterra e contrata outro! Se por acaso morre um funcionário público de ataque cardíaco na repartição, não tem problema, enterra e contrata outro! Se morre um motorista de ônibus, não tem problema, enterra e contrata outro! São todos descartáveis, somos todos peças altamente substituíveis na engrenagem, somos apenas mais um tijolo no grande muro que se ergue! Se morrem milhões de japoneses com a bomba de Hiroxima, milhões de iraquianos na Guerra do Iraque, não tem problema, enterram, enterrem seus mortos, essas carcaças inúteis, pois é tudo em nome da Democracia, pois se as guerras existem é para o bem da Ciência e pelo Progresso da Humanidade! Votemos em Bush nas próximas eleições, salvemos o mundo do terror, do Oriente, dos comunistas, vamos assegurar nossa Propriedade Privada, nossas riquezas, nosso carrinho, nossa casinha, vamos ao cinema assistir ao Exterminador do Futuro no conforto de nossas poltronas macias, vamos assistir Velozes e Furiosos, vamos assistir o Rambo 4, 5 e 6, matando mais uma vez milhões de inimigos cruéis com sua metralhadora justiceira, vamos, vamos salvar o nosso conforto, a nossa segurança, a nossa Democracia, vamos, oh homens e mulheres de Família, vamos salvar o nosso "American Way of Life" e agradecer a Deus por tudo que ele nos deu!

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* All in all it was just a brick in the wall: De qualquer maneira era só um tijolo na parede.

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 27/08/2010
Reeditado em 28/08/2010
Código do texto: T2462997
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